sexta-feira, 22 de abril de 2011

"Boleiros da Arquibancada" entrevista: Mário Marra, "o comentarista do olho clínico"

De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo e Matheus de Oliveira.

22/04/11 - Mais uma entrevista realizada. Mais uma parcela de um sentimento de honra por poder conversar com pessoas que admiramos na área da comunicação esportiva, em especial, membros atuantes nesse esporte tão fantástico chamado Futebol. Dessa vez, conversamos com Mário Marra, comentarista da Rede CBN de Rádio, em São Paulo. Mário Marra, gentilmente, aceitou responder a algumas perguntas nossas. O bate-papo entre Marra e o Boleiros da Arquibancada você confere a seguir.

No Mineirão, quando Marra ainda defendia os microfones das Rádios Globo/CBN em Minas Gerais.

Conte-nos sobre o início de carreira. Quando e onde começou o interesse pela comunicação esportiva?
Não sei quando começou a paixão, mas sei que ela é antiga. Não tinha olhar crítico, mas sempre quis trabalhar no jornalismo esportivo. Meu pai queria ter sido locutor. Ele gostava de usar a voz, imitar locuções e talvez tenha me influenciado.
Comecei na Rádio CBN BH, em 2000. A equipe era meio que experimental e não tínhamos vínculo além do fraterno com a Rádio. Fazíamos por prazer e pelo sonho. Tinha jogado futebol de salão e sempre me interessei por tática.
Fui convidado pelo ex-chefe de jornalismo, Walter Huamany, e comecei a comentar uns jogos. A coisa pegou. Quando a Rádio Globo chegou em BH, em 2002, fui convidado a fazer parte da programação – já como contratado. Em 2005, fiz os primeiros jogos no PPV e aos poucos comecei a escrever para sites e jornais. Ano passado, recebi uma proposta da Rádio CBN SP e aceitei. Agora em maio, faço um ano de São Paulo.

No rádio, sempre atuou como comentarista ou exerceu outras funções?
Sou comentarista mesmo. Obviamente faço entrevistas e matérias. Ser jornalista é ser repórter. Somos obrigados a fazer tudo, mas sempre tive o rótulo de comentarista.

Como surgiu o apelido de “olho clínico”?
Trabalhava com propagandista da indústria farmacêutica. Tinha muito contato com o meio médico e o Guiotti falou uma vez e pegou. Alguns falam que é pela observação, mas o fato é que a origem é outra.
Ídolos nos microfones e dentro das quatro linhas ...
Tenho tanta dificuldade em apontar ídolos. Ninguém é perfeito e é fácil perdermos o encanto por alguém. Vivo momentos em que gosto mais de um que do outro. Tem o comentarista que é fera na bola rolando e tem o que é craque no contexto, na informação, na parte política. Aprendi a admirar o trabalho e a visão do Juca Kfouri. Acho o Mauro Cézar Pereira ótimo também e o PVC. Na bola rolando, vivo momentos de Paulo Calçade, Mauro Beting, Lédio Carmona e Rodrigo Bueno. Não tem como chamar de ídolos, prefiro apontar que são referências. Admiro a visão do Victor Birner, do Marcelo Bechler, do Léo Bertozzi, Felippe Cardoso, Álvaro Oliveira e muitos outros.Gosto de muita gente e pego o que acho melhor de cada um.
Dentro das quatro linhas, meu ídolo na infância era o Éder. Depois foi Maradona e hoje é meu mestre Gerrard. Gerrard me fascina pela identificação com o clube, com a doação em campo e com a versatilidade. Pra preencher os pré-requisitos necessários para apontar um ídolo não basta jogar bola. Na minha visão, a personalidade e a liderança pesam muito.
Com qual profissional gostaria de trabalhar e não teve oportunidade?
Queria ter trabalhado com muita gente boa. Lembro de início do Mauro Cézar, que é comentarista. Gostaria de “rolar a bola” com ele. Fiquei muito honrado de ter feito alguns programas com o Jota Júnior. Quero ter o prazer de trabalhar com José Silvério, Mauro Beting, Alberto Rodrigues, Willy, Milton Leite, Mário Henrique. No entanto, sinto hoje que a equipe tem que se gostar. Trabalhar com o Deva Pascovicci tem sido uma alegria imensa. Saber que André Sanches será o repórter me dá alegria. O clima é essencial para uma boa tarde de trabalho.
O narrador e comentarista Paulo Azeredo disse numa entrevista: “Aquele (cronista esportivo) que diz que não tem uma equipe, vai me desculpar, mas é um mentiroso. Não há como gostar de futebol sem ter um time, sem frequentar um campo de jogo...". Você concorda? Pra que time de futebol torce o Mário Marra?
É óbvio que não precisamos torcer pra gostar do esporte. Não tenho a menor ligação com a Red Bull ou a Ferrari, mas gosto de velocidade. Eu entendo o ponto de vista, mas é preciso buscar outra visão também. Não é verdade absoluta. Eu torço! Torço para o Atlético. O mais interessante é que tenho muito respeito do torcedor do Cruzeiro, mas sou atleticano. O que acontece em campo não é distorcido por ter um ou outro time. Quem convive comigo sabe que tenho o respeito de ídolos do Cruzeiro e o Alex é um deles. Não tem nada a ver. Evito falar por um motivo simples e bem pouco retórico. Já é tão difícil achar a profissão que te realiza. É tão difícil trabalhar no sonho e eu ainda vou criar mais uma barreira pra não ser ouvido? Muita gente acha que o que um atleticano fala é papo de anti-cruzeirense, mas resolvi abrir agora para todos saberem. Preferi falar até para mostrar que é preciso trabalhar com conceito. Tenho um segundo time. Sou Liverpool desde que ouço Beatles e desde que conheci a história dos Reds.
Qual a transmissão que mais o marcou na carreira?
Algumas foram muito especiais. A final do Mineiro em 2000 foi muito importante pra mim. Minha mãe havia falecido dois dias antes e era minha primeira final de campeonato. Fazer Brasil x Argentina foi muito gratificante também. Teve um Ipatinga x Botafogo, pelo Sportv que foi muito marcante também.


Osvaldo Reis e Mário Marra, nas transmissões pelo PFC. Foto retirada do site Papo de Bola.


Quais são seus projetos para a sequência da carreira? Pensa em voltar a comentar na televisão?
Já entrei na escala da televisão algumas vezes, mas não foi possível fazer os jogos. Minha prioridade é a rádio. Se der para fazer, eu faço. Acho que vivo um momento muito de rádio e quero continuar. Daqui a alguns anos as coisas podem mudar. Tenho ficado cada vez mais quieto e querendo trabalhar com mais conteúdo e acho que a CBN me dá o que quero. Quero voltar a ter coluna em jornal, mas só com liberdade para opinar.
Se fosse presidente de um grande clube no Brasil, qual decisão tomaria: Negociaria as cotas de televisão individualmente ou seguiria firme ao lado do Clube dos 13?
Estou cansado de saber que o Clube dos 13 não é santo, mas entendo que a ocasião era para união. O dinheiro seria muito maior e o crescimento poderia ser uma realidade. Não existem santos na história.
Há diferença entre o estilo de transmissão paulista e mineiro, no rádio?
Existe diferença, não tenho a menor dúvida. Rádio é muito regional e gosto disso. Fazemos na Rádio CBN um futebol ainda mais diferente. Todos opinam. O repórter opina, o plantão opina e a diversidade de visões dá o tom. Acho riquíssimo. O comentarista centralizador e detentor de toda a sabedoria não deveria existir mais. Uma visão diferente é sempre importante. Sempre que terminava meus comentários em BH, fazia questão de deixar claro que era a minha opinião e não a verdade absoluta.

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