Ex-ponteiro do Minas virou líbero após lesão no ombro e, com o mercado praticamente fechado, não encontra local para atuar
De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo.
19/08/2015 - Wesley da Silva Ribeiro chega a 20 anos como profissional do voleibol e um currículo respeitável. Ao lado do levantador Rafinha, o ex-ponteiro e agora líbero Ezinho é o único que participou dos quatro títulos do Minas na Superliga Masculina de Vôlei (tem outros quatro vices). Foram 3728 pontos do maior pontuador da história da Superliga após passagens por Suzano, Maringá, Minas, Unisul, Montes Claros, Volta Redonda e Taubaté. Também tem convocações importantes pela seleção brasileira na década passada. Porém, mesmo ainda aos 36 anos, o mineiro de Uberlândia já pensa em parar de jogar. A dois meses da Superliga, ele ainda não tem clube para defender.
Ezinho, ao lado de Rafinha (#3) e Henrique (#15), fez história no Minas.
(Foto: Alexandre Arruda/CBV)
Em 2013, uma lesão no ombro limitou muito os movimentos do então ponteiro, que se viu obrigado a virar líbero. "Já estava sem condições de atacar", lembra. Mas Ezinho sabia que essa decisão acarretaria em um mercado mais fechado que a posição de defensor oferece. "Não me arrependo de ter virado libero. Acredito que o mercado é mais fechado. Mesmo com dois em cada equipe, saberia da dificuldade de arrumar time", afirma.
Preparado para uma possível aposentadoria, Ezinho se mostra feliz com o que construiu na carreira. "Graças a Deus, realizado profissionalmente. Claro que nosso voleibol não está vivendo bons momentos, principalmente patrocinadores. Mas, enfim, fui muito feliz nesse esporte", disse Ezinho, já em tom de despedida.
Na entrevista abaixo, Ezinho fala sobre a atual fase da carreira e relembra o auge defendendo o Minas de 1998 até a década passada.
***
- A que credita esse período sem clube, mesmo com toda essa história no vôlei? E, tendo em vista isso, você se arrepende de ter virado líbero? Acredita que como ponteiro teria se dado melhor?
Não me arrependo de ter virado libero porque já estava sem condições de atacar por causa da forte lesão no ombro. Acredito que o mercado de libero é mais fechado. Mesmo com dois em cada time, saberia da dificuldade de arrumar equipe. Estou preparado para uma possível aposentadoria. E, graças a Deus, realizado profissionalmente. Claro que nosso voleibol não está vivendo bons momentos, principalmente patrocinadores. Mas, enfim, fui muito feliz nesse esporte.
- A lesão no ombro foi em que ano mesmo? Te complicou assim como o Samuel (oposto/ponteiro do Minas)...
Bem, isso mesmo me limitou bastante. Mas o meu foi de uma vez, de um ano pro outro. Antes, não sentia nada no ombro. Depois que comecei a sentir, fiquei bem inseguro pra atacar.
- O que pensa pro pós-carreira? Já a partir desse ano, por exemplo, caso pare mesmo.
Faz parte, comecei a jogar muito cedo. Por enquanto, dando uma analisada geral se quero continuar no esporte. Por enquanto, nada ligado ao vôlei.
- Não pensa em virar treinador?
Já me perguntaram isso também, pela vivência e experiência que tenho (risos). Mas, quem sabe?Não descarto também a possibilidade.
- Não pensa em virar treinador?
Já me perguntaram isso também, pela vivência e experiência que tenho (risos). Mas, quem sabe?Não descarto também a possibilidade.
- Lembra daquele momento em que o Minas passou a fazer parte da sua história? Como era o Ezinho daquela época e qual a importância do clube para te transformar no atleta que se tornou?
No Minas Tênis Clube cheguei em 1998. Depois de ter jogado o Mundial juvenil, o técnico Cebola chamou André Nascimento, Douglas Cordeiro, Vinicius e eu para a disputa da Superliga 1998/1999, juntamente com o Serginho, Rafa e cia. Quando ganhamos um jogo contra o Suzano do Giba, ali nosso time começou a ser olhado com outros olhos, já que éramos um time bem jovem, novos garotos. A mudança de um atleta do juvenil para o adulto do Minas foi de extrema importância em assumir novas responsabilidades, disciplina e uma grande importância do técnico Cebola, formando grandes profissionais, e sem falar na estrutura e condições de trabalho que o clube (Minas) oferece.
- Você e o Rafinha são os dois únicos a conquistarem as quatro Superligas pelo Minas. O que representa isso pra você?
Fico muito feliz em saber que eu e o Rafinha fizemos parte desses quatro grandes times que o Minas teve.
- O vôlei masculino do Minas já vinha há quase 15 anos sem títulos nacionais quando vocês conquistaram aquela primeira Superliga. Teve um gostinho especial interromper esse jejum?
Para mim, foi um gosto muito especial esse primeiro titulo da Superliga, e ainda jogando ao lado de grandes profissionais como Mauricio, Giba, Carlão e cia.
Ezinho virou líbero por Montes Claros em 2014, após a lesão no ombro no fim do ano anterior.
(Foto: Arquivo pessoal Ezinho)
- Qual era a expectativa da torcida e da
imprensa sobre aquele time de 1999/2000? Eram alguns jovens valores, caso seu,
do André Nascimento, Douglas, Henrique... Acredito que nos dois anos
seguintes já passaram a ser encarados como favoritos desde o início.
A
torcida e a imprensa começaram a acreditar desde inicio da temporada, pelo fato
de no primeiro turno já que estarmos fazendo uma ótima campanha e que em 1999/2000
já contávamos com grandes estrelas do nosso voleibol.
- Lembra-se das características daqueles
três times campeões? Mudou muita coisa em cada um deles?
Acredito
que o primeiro titulo tinha mais jogadores com uma certa bagagem de Superliga,
até mesmo de nível internacional, mas para mim o bicampeonato teve um gostinho
mais que especial. Foi quando eu me firmei como titular do time junto com o
André Nascimento, onde conseguimos alcançar um recorde de vitorias conquistadas
– 26 partidas. Já no tricampeonato, estávamos sendo considerados favoritos, com
o reforço do Dante (Giba tinha saído).
- Você chegou a jogar com o Carlão,
quando ele voltou à quadra. Lembra sobre o papel dele naquela equipe campeã? E
também dos outros jogadores que já eram estrelas do voleibol nacional, como o
Maurício, o Giba e o André Heller.
Carlão
foi um grande líder na quadra e também
quando não estava, dando muita força para seu substituto André Nascimento.
Sempre um vencedor, foi uma grande referência para nós jovens, naquela época. O
Mauricio e o Giba já mostravam grande entrosamento dentro de quadra, sendo os
dois grandes lideres também, e o André Heller sempre com muita raça e vontade
de vencer nas suas vibrações.
- Você teve a oportunidade de trabalhar
com um dos principais nomes do voleibol do Minas, o Cebola. Qual a importância
dele naquelas conquistas e as características do método de trabalho?
O
Carlos Alberto Castanheira (Cebola) foi um grande técnico formador de jovens
atletas dentro do Minas, sempre trabalha o lado psicológico do atleta em
momentos decisivos nas partidas e até mesmo nos treinamentos. Cebola sempre deu
muita ênfase no sistema ofensivo de uma equipe, pedindo para os levantadores
acelerarem as jogadas, tanto nas pontas como os centrais.
- Você foi eleito o melhor da final de
2001/2002, né? Fez também o ponto final. Lembre um pouco daquela decisão e, em
um comparativo com as outras três, qual representou mais?
Graças
a Deus, naquele tricampeonato eu estava muito bem fisicamente e emocionalmente, confiante também. Na final
no Mineirinho, foi muito gratificante fechar a partida com um ace e ter saído
com o troféu VivaVôlei. Tive boas lembranças também no tetracampeonato, o
primeiro time a se tornar quatro vezes campeões e tivemos a felicidade de
dedicar o titulo ao nosso amigo Samuel Fuchs, que recentemente tinha perdido o
irmão em um acidente.
- Você saiu do clube e retornou pouco
depois para conquistar o quarto título. Quais as diferenças e semelhanças entre
o time tricampeão e o de 2006/2007? Qual ciclo era melhor e quais as diferenças
do trabalho do Cebola e do Mauro Grasso?
Tive
a oportunidade de trabalhar três anos com o Mauro Grasso, um grande treinador
que não media esforços para trabalhar. Acredito que a diferença do Cebola e do
Mauro era que os dois visavam a parte psicológica, mas o Cebola mais a parte
tática e o Mauro a parte técnica (trabalho).
- Você concorda se eu disser que você
está entre os principais nomes da história do vôlei do Minas? Talvez seja um
dos mais identificados com o clube...
Me
identifiquei muito com o Minas, por ter participado de sete finais pelo clube. Sinto-me
privilegiado por ter feito história nesse grande clube.
- Qual o tamanho do Minas Tênis Clube na
história do vôlei brasileiro? No esporte é muito comum a expressão “a camisa pesa”. Pra quem joga a favor e pra quem joga contra o Minas, você acredita que isso realmente pesa a favor ou contra?
O
Minas é uma referência no voleibol brasileiro e que está na elite até nos dias
de hoje. Sempre formando jovens talentos, com uma estrutura fantástica. Acredito
que você jogando a favor do Minas a camisa pesa muito para o lado positivo,
sempre tendo uma torcida fiel e apaixonada pelo vôlei. O exemplo é nessa
temporada (2014/2015), o time com jovens talentos e mesmo assim chegou entre os
quatro melhores do país.
- Na sua visão, o que é fundamental para
o Minas Tênis manter a sua tradição e importância no voleibol mesmo já estando
há algum tempo sem grandes conquistas e também ter enfrentado problemas de
investimento?
Acredito
que tem sempre algo a melhorar. Acho que para manter os jovens talentos como
tem feito (os pratas da casa) e mesclar com jogadores experientes, acostumado à
decisão de Superliga, importante também manter a base, como fazia nos anos de
glória do clube e de grandes finais.
- Carreira
Comecei
a jogar com 12 anos e com 15 já estava no Pinheiros:
1992/1994
- Uberlândia Tênis Clube
1994/1995
- Esporte Clube Pinheiros
1996/1997
- Suzano (juvenil e adulto)
1997
- Maringá Vôlei
1998-2003
- Minas
2003/2004
- Suzano Wizard
2004/2005
- Minas
2005/2006
- Unisul Florianópolis
2006-2009
- Minas
2009/2010
- Montes Claros
2010/2011
- Volta Redonda
2011/2012
- Minas
2012/2013
- Volta Redonda
2013/2014
- Taubaté
2014/2015
- Montes Claros
Seleção
brasileira - 2003/2007 (Campeão da Copa dos Campeões no Japão em 2005)
0 comentários :
Postar um comentário