quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Coluna: "A bola está comigo" - Quantas "Martas" e "Maurines" deixaremos escapar?

De Fortaleza.

                              

Dentre as tantas belas histórias de superação que abrilhantaram o Pan de Guadalajara, uma em especial me chamou a atenção. Foi impossível conter as lágrimas e a comoção quando Maurine marcou aquele gol contra o México. O gol que tanto orgulharia seu Brasil - e orgulhou ao Brasil inteiro! A garra, a luta e o amor a amarelinha da gaúcha, que permaneceu em solo mexicano mesmo profundamente abatida com a perda do pai deveria ser um exemplo.

 Os meninos do futebol, que supomos ganharem muito mais que as garotas que se aventuram no esporte feminino, não demonstraram um quarto da entrega e da motivação da seleção feminina. Tratados como jovens promessas em seus clubes, alguns já flertando com os euros e aprendendo idioma estrangeiro, sabem que sempre existirá espaço para homens no futebol. Aliás, a maioria está mais preocupada é com o corte do cabelo, o twitter, as baladas, as pulseirinhas, o resultado do jogo de dominó na laje... Afinal, "Futebol é zueira, véi! É mó curtição!". Serelepes, mimados pelo empresário e sem um pingo de dor na consciência, (nem no pézinho, protegido pela chuteira "Nike") eliminados com a campanha medíocre que todos conhecemos, os rapazes fizeram o favor de abrir caminho para uma faceta do futebol escondida, sem apoio, longe de chegar por completo ao domínio público e com fracos pilares de sustentação: o esporte feminino.

Qual foi a última vez (antes, claro, da nossa brilhante campanha em Guadalajara, que deu gosto de assistir) em que você se sentou no sofá, pegou um refrigerante e o controle da TV exclusivamente para assistir à uma partida de futebol feminino? Faz tempo, não faz? Calma, leitor, não é má vontade sua. Acontece que, ao contrário do futebol "convencional", pelo qual as emissoras brigam ferrenhamente pelos direitos de transmissão, nenhuma das emissoras faz questão de exibir as garotas. CBF? Não, não... Todos sabemos que o apoio do órgão é muito aquém do que essas mulheres tão guerreiras necessitam. Quase nulo.

Além, é claro, daquela velha história do machismo. O preconceito existente é grande. A ideologia antiquada e sem fundamento de que "menina não brinca com bola" é lamentável. Por que nos privar do direito que nós temos de nos divertirmos e nos encantarmos com o fascínio que a bola, esse místico e milenar objeto, exerce sobre todos os seres humanos, independentemente de seu sexo? É inegável que o futebol feminino precisa ser difundido. Nesse Pan e nas Olimpiadas de Pequim, felizmente, nosso potencial já foi visto por grande parte da população. Recomendo, portanto, a Ricardo Teixeira que mude de oftalmologista...

Se pararmos para pensar, quantas e quantas meninas com grande capacidade e potencial para o esporte em nosso país não foram, simplesmente, descartadas de nosso leque de talentos? Quantas garotas de garra, artilheiras, dribladoras e "melhores do mundo" não deixaram de ser profissionais, quando necessitavam apenas ser moldadas e a falta absurda de visão das autoridades não permitiu? Resumindo: com a falta de apoio ao esporte para mulheres, quantas "Martas" e "Maurines" a mais deixaremos escapar?


FOTO: AP Photo/Juan Karita

O sexo forte mostrou uma energia e combatividade sem igual e conquistou uma prata nesses jogos, que bem poderia ser ouro. Vontade não faltou. Sustentação, sim. Mulheres de todo o Brasil, Maurine foi um exemplo. Convoco todas, para que juntas, possamos impor-nos e buscar a igualdade. Por que não temos igual apoio ao que os homens recebem quando decidem ser atletas? A sociedade precisa nos ver com outros olhos. A CBF também. Munidas com nossa garra, união e batom vamos atrás de nossos direitos. E nos aventurar no maravilhoso mundo do esporte. Seja ele o futebol, o volei, o basquete, o tenis, a esgrima, o taekwondo, a pelota basca... O importante é mostrar que precisam nos valorizar e que podemos, sim, representar com elegância e garra as cores de nossa bandeira.

Hoje, a bola esteve comigo, Anna Nathália Simões. Passo-a para o profissionalíssimo Arthur Stábile, com a certeza de que amanhã teremos um belo texto.

E ao fiel leitor, beijos de gloss!
Anna Nathália Simões

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