segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Boleiros da Arquibancada" entrevista: Marcelo Bechler

De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo e Matheus de Oliveira,

13/06/11 - Seguimos com nosso quadro de entrevistas. O entrevistado da vez é Marcelo Bechler, comentarista do Sistema Globo de Rádio de São Paulo.

Marcelo, onde e em que ano se formou e como surgiu o desejo de seguir carreira na comunicação esportiva ?
Me formei na PUC-MG no final de 2008. O desejo surgiu ainda muito cedo, mais ou menos com 12 anos. Cheguei a criar um jornal no meu prédio contando os acontecimentos de lá. Vendia por 25 centavos, preço de “jornal de verdade” de hoje.

Teve algo ou alguém que te influenciou a seguir esse caminho?
O gosto pelo futebol e o tempo que ele ocupava na minha vida me fez perceber que se eu pudesse ganhar dinheiro com isso, não teria nada melhor profissionalmente. Acho que sempre fui mais influenciado por jornalistas do que por jogadores.

Você já passou pela TV, no programa Jogada de Classe, trabalha no rádio, no seu blog e é editor do blog Jogo Aberto, de Lédio Carmona. Em qual mídia prefere trabalhar?
Não tenho preferência por mídia. Gosto do conteúdo. Em alguns lugares é mais importante o personagem do que o jornalista, ou o jornalista é a estrela, a notícia. Acho um erro. No blog do Lédio e na rádio eu posso falar exclusivamente o que eu acho pertinente. Na TV, ficava limitado a linha do programa e algum assunto relevante, que fosse de fora do interesse do apresentador/dono, não entrava na pauta.
Como aconteceu o convite, primeiramente de chegada ao Sistema Globo de Rádio, e agora a transferência para São Paulo? Você imaginava um reconhecimento profissional tão rápido?
Não imaginava que seria rápido não. Acho que tenho competência, sou trabalhador e sempre escolho ser correto. Mas isso não é exclusividade minha, muitos outros colegas são tão bons quanto e não tiveram ainda a chance deles. Eu entrei na rádio Globo substituindo o Mário Marra, por indicação dele. Osvaldo Reis e Léo Figueiredo também ajudaram a fazer “lobby” a meu favor. Conhecia o Guiotti dos tempos de TV Horizonte. Não sou contra entrar em um veículo por indicação, não acho errado. Questiono se manter empregado só por conta disso. A vinda para SP se deu por conta da saída do Paulo Júlio Clemant e do Zé Elias, quase ao mesmo tempo. Não era o primeiro nome para a equipe, mas fiquei muito satisfeito com o reconhecimento rápido.

Qual o segredo para fazer uma boa leitura do jogo?
Não é segredo, é estudo. Qualquer torcedor sabe exatamente como joga o seu time, onde a cobertura é fraca, quem faz a saída de bola, se o centroavante prefere a bola rápida para antecipar ou espera no 2º pau. Converse com torcedores, técnicos, jogadores. Assista aos jogos de maneira crítica. É preciso levar tudo em conta. Características individuais, momento técnico, pressão da diretoria. Se cercando do maior número possível de informações, o jogo acontecerá naturalmente a sua frente e você estará preparado para percebe-lo. O comentarista precisa “matar” o jogo. E o quanto antes melhor, senão o jogo mata você.

Marcelo, qual o assunto que mais te preocupa nesse momento no futebol brasileiro e por quê?
Me preocupa a passividade de todos em relação à organização da Copa do Mundo. Não basta reclamar no twitter, xingar no blog. É preciso explicitar, cobrar os cartolas sempre que os vir. É preciso fazer uma marcha, como a da maconha, das vagabundas...o que acontece no Brasil é absurdo e não é tratado como absurdo.

Sobre as contratações do Atlético Mineiro. Você acredita que essas contratações estão sendo feitas com dinheiro do clube realmente ou há alguém por trás dessa “mina de ouro” do Galo?
O Atlético investe exclusivamente em time de futebol. Pedi a um consultor importante da Fundação Dom Cabral para analisar o balanço do clube. O Atlético aumentou, em 2010, 25 milhões a sua receita. Os custos com o departamento de futebol aumentaram 27 milhões. Se há ou não participação obscura, não sei. Mas me parece claro que Kalil quer montar um time vencedor, sem se preparar devidamente para o que virá depois. Não o condeno. São muitos anos sem uma conquista importante e ele precisa arriscar. Gasta tudo que ganha montando time.


Marcelo e Osvaldo Reis, pela Rádio Globo Minas.

Sobre a recuperação de craques já consagrados, Bechler, acredita em Rivaldo e Ronaldinho?
São casos diferentes. Rivaldo tem 39 anos e não joga em alto nível desde 2003 quando deixou o Milan. É lento e a tendência é que viva de um ou outro passe, que deve acontecer em proporção menor ao número de vezes que a marcação o atrapalhará. Ronaldinho, em 2010, jogou muito bem contra o Manchester United nas oitavas-de-final da Liga dos Campeões. Havia ido bem contra o Real Madrid na primeira fase. Claro que não é o jogador do Barcelona, mas pode ser o do Milan. Acredito no Ronaldinho, no Rivaldo não.

Em sua opinião, qual o melhor jogador em atividade no Brasil, e por quê?
Neymar será um dos melhores do mundo em pouco tempo. Tem muito recurso e passou a querer ganhar acima de tudo. Faltava competitividade a ele. O jogo bonito flui naturalmente.

E qual a melhor equipe?
Hoje o Santos é o mais competitivo. O Coritiba ia bem até virar o “alvo” de todos. O Cruzeiro pode ser um rolo compressor se lhe derem espaço para jogar em velocidade. O São Paulo é o que contará com mais recursos técnicos quando Luís Fabiano estrear. O melhor de hoje não era o do mês passado e talvez não seja o do mês seguinte.

A pergunta do torcedor: Para qual time de futebol torce Marcelo Bechler?
O Santos é o time mais competitivo do Brasil. O São Paulo tem muita qualidade técnica. A defesa do Palmeiras é muito bem armada por Scolari e o Corinthians de Tite vai encorpar mais uma vez. Em Minas, o Atlético vive bom momento, com muitos garotos da base e a velocidade que Dorival queria ainda no início do ano. O Cruzeiro tem bons jogadores e pode variar taticamente muitas vezes durante uma partida. É possível opinar e informar sobre todos os times sem dizer para qual time torce.

Quais as suas expectativas para o futebol brasileiro em 2011, em especial para os times de Minas?
Ainda acho o Cruzeiro a frente do Atlético pela consistência do time que está junto a mais tempo. É possível imaginar o time de Cuca oscilando, mas se mantendo sempre consciente. O Atlético é uma incógnita. Começou bem o brasileiro, mas os garotos precisam se firmar. Se continuar vencendo, vai virar mira, assim como foi em 2009 com Celso Roth. Mas a distância diminuiu, sem dúvidas. É possível imaginá-los mais próximos na tabela de classificação.

Dê uma dica para quem deseja se tornar um bom jornalista, Marcelo.
Vejo com preocupação o que acontece hoje, embora eu seja um dos menos indicados para falar. Todos querem opinar, mas a preocupação deve ser com a informação. Um bom comentarista precisa ser muito bem informado. E informar não é dizer quem é desfalque e quem não é. É entender o jogo, entender o clube, todo o processo. A dica que dou é: conheça a fundo o futebol, estude o futebol. Tente informar o seu público. Opinião eu tenho, você tem, o leitor tem. Todos têm. Por que uma é melhor do que a outra? Não é. Opinião pela opinião vale muito pouco. Quem tiver mais informação vai saber argumentar melhor e questionar melhor. A chave do bom jornalismo não muda com o tempo, com o estilo descontraído ou não. A chave é a informação.

2 comentários :

  1. Muito boa a entrevista, o Marcelo é comentarista de mão cheia, não entendi pq ele ñ disse que torce pro Cruzeiro é tão normal, mas parabéns pela entrevista! Agora vou ver as outras entrevistas, quero ser jornalista. Um abraço.

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  2. Acho o Marcelo muito bom comentarista.Tem um didática perfeita.E suas colocações,quando é pergunta de qualquer assunta são quase perfeitas. Parabéns.

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