terça-feira, 26 de abril de 2011

"Boleiros da Arquibancada" entrevista: Mauro Beting

De Belo Horizonte.
Por Arthur Stabile.

26/04/11 - Amigos, trazemos à vocês mais uma de nossas entrevistas com comunicadores esportivos. Desta vez, batemos um papo com Mauro Beting, da Rede Bandeirantes, que aceitou gentilmente a responder algumas de nossas perguntas.


Como descobriu o dom para o jornalismo?
No útero. Sou neto, filho, irmão, sobrinho, primo, marido, e espero não ser pai de jornalistas. Quem é jornalista casa com jornalista na família. Quem não é também casa. Enfim, é a família Sarney do jornalismo. Só espero não ser pai de jornalistas.
De onde surgiu essa paixão pelo futebol?
No útero, também. A família inteira do meu pai é alucinada por Palmeiras e por futebol, nessa ordem. E, quando nasci, e até os 10 anos, dos maiores times do Brasil era o Palmeiras. Ficou mais fácil. Como sempre amei História e Geografia, e o futebol diariamente nos ensina também isso, ficou mais fácil. Aprendi a ler com a revista “Placar”. Meu pai havia sido Jornalista esportivo. É difícil precisar. Nasci com isso. É uma doença hereditária.
Como foi o seu início de carreira?
Dos mais fáceis possíveis. Sendo filho de quem sou, as portas estavam abertas. Mas, a partir do primeiro minuto, tudo ficou mais complexo. Eu tinha de ser um Beting, mais que um Mauro. E eu sempre soube que jamais seria do nível do meu pai. Eu sempre driblei bem as pressões porque sei das minhas limitações.


Em que momento preferiu seguir a carreira esportiva?
Caí no esporte em 1990, depois de três anos de ofício. Sempre quis ser jornalista esportivo, mas meu pai me fez ver que era difícil, cansativo, fim de semana trabalhado, coisa e tal. Por isso comecei em outras área. Mas, quando comecei a assinar uma coluna, durante a Copa de 1990, não parei mais. Em um ano era comentarista de TV e de rádio. Mais nove anos comecei a escrever também para internet. Aos 15 anos de ofício virei colunista de revista. Hoje, para resumir, trabalho em TV aberta e fechada, rádio, jornal, blog, videoblog, coluna de internet, revista. E ainda faço livros, apresento programas e eventos, medio debates, vez ou outra volto a dar aulas, e estou começando a fazer este ano roteiro e direção de documentários de cinema. Só falta eu aprender a fazer Jornalismo.
Acredita que os cursos de arbitragem e de técnico contribuíram de que forma para as suas análises?
Muito. Ao menos aprendi a ser melhor xingado. Mais gente deveria fazer. Só no futebol, dentro de campo, a gente pode chutar.
Qual a sensação de ter feito um programa ao lado do seu pai, Joelmir Beting?
Demais. Sou tão burro que levei 17 anos de ofício para começar a trabalhar com ele. Mas é difícil estar ao lado de quem está muito acima de você e sempre esteve na vida empurrando a gente à frente e para cima. Agradecemos demais ao Bandsports pela ideia e pelo espaço que ocupamos por seis anos e só paramos para cuidar dos demais Betings que amamos: os meus filhos, e netos dele, e o amor da minha vida, a Helen.
O senhor já trabalhou tanto em rádio, em televisão e internet. Tem a preferência por algum dos meios? E qual as diferenças cruciais entre eles?
Radio. É o único que fala e que ouve o cliente. Se pudesse, só faria rádio, mas não consigo ficar parado. Gosto de todos, mas prefiro o rádio. Até pela Bandeirantes, prefixo fantástico, e com o Pelé do rádio, o Silvério, e outros grandes amigos, digo, colegas.
Tem alguma diferença de comentar em televisão aberta e em canal a cabo?
Não deveria ter. O torcedor é inteligente nos dois meios. Nós que emburrecemos ao fazer tais distinções. Infelizmente, na aberta, quase escancarada, somos reféns dos índices de audiência, mais dos índices que da audiência. Enquanto, na fechada, podemos não deitar e não rolar, e tentarmos ser mais isentos, imparciais, objetivos e não clubistas e bairristas como exageramos na aberta.
Qual a sua opinião sobre a ‘invasão’ dos ex-craques no jornalismo esportivo brasileiro? E trabalhar com ex-jogadores é muito diferente de jornalistas formados?
Ótima. Gosto da tabelinha de craques e pretensos craques com jornalistas e pretensos jornalistas. Só enriquecem o debate. Aprendi com todos os muitos ex-atletas com quem trabalhei, até com os raros que pouco podiam ensinar.
Ao deixar claro a sua paixão pelo Palmeiras influiu de alguma forma na sua carreira?
Deve influir para os outros, para mim, não. Como cidadão, tenho o direito de ser Palmeiras. Como jornalista, tenho o dever de não distorcer. Mas, na tentativa de ser imparcial, acabou sendo parcial demais CONTRA o Palmeiras. Erro que cometo há 20 anos. Mas, nos próximos 40, vou tentar melhorar, mas sei que não vou conseguir.
O senhor já trabalhou em Copas do Mundo. Qual a sensação de estar em uma Copa do Mundo? Poderia nos falar em quais foi e qual a mais marcante?
Não tem nada igual. Ser pago para falar a bobagem que quiser num ótimo lugar num negócio que, desde 1974, eu pagava para fazer. Mais marcante, claro, a primeira, e não pela vitória brasileira, em 1994, mas porque era a primeira.
Como é trabalhar com tantos nomes importantes do futebol brasileiro como Neto, Luciano do Valle, Nivaldo Prieto, Milton Neves e tantos outros?
Um privilégio, uma honra, uma responsabilidade e algo inacreditável. Principalmente estando ao lado de quem cresci ouvindo e, por vezes, copiando. E, mais ainda, desses nomes todos, e muitos mais, ainda ter se tornado amigo. Dos colegas de prefixo aos colegas com quem não trabalhei. Até porque meu mote não é ser o melhor jornalista, que não sou mesmo. Mas, sim, o mais querido. Algo que, sem modéstia, estou entre os top-10. Porque Jornalismo não é a arte de fazer inimigos. É o dever de tentar sem equidistante sem ser um equino.
De onde vem à inspiração de escrever livros sobre o passado do futebol nacional?
Dos meus familiares que trabalham com pesquisa, livros e História, e minha paixão pelo tema. Sou historiador frustrado mas, cada vez mais, profissionalmente, trabalho pelo resgate do que passou. E, com meu trabalho, tento deixar algo para ser lido e entendido daqui a alguns anos. E não fico só nos livros, estou em vários projetos de resgate e preservação histórica. Agora, e cada vez mais, em livros, documentários, museus e o que mais pintar na área. Só não falo mais porque estou no meio de alguns desses projetos ou dando o pontapé inicial.
Foi difícil lembrar-se das melhores besteiras ditas pelos craques e juntá-las no livro: "Bolas & Bocas - Frases de Craques e Bagres do Futebol"?
É um trabalho de 15 anos, e que tem material para mais dois livros. É uma curtição, algo que aprendi com meus pais, e que a internet tem ajudado a desenvolver, além dos próprios atletas.
Agora uma pergunta um tanto complicada. Qual empresa que trabalhou você define como a melhor para se trabalhar e qual a mais desenvolvida na área da comunicação?
A minha casa é a Bandeirantes. Frequento o prédio da emissora desde os oito anos. Foi meu primeiro emprego, em 1987. Conheci lá , em 1988, a minha mulher. Trabalhei na Band de 1987 a 1991 (no Jornalismo). No esporte, de 1997 a 2000, voltei em 2001, e, lá estou, de volta, desde 2004. Na rádio, desde 2003. No Bandsports, desde 2004. É muito tempo e muita afinidade. Posso trabalhar descalço pelo ambiente acolhedor e caseiro. A mais desenvolvida, entre tantas que trabalhei, foi o Sportv, por toda estrutura da Globo. Embora, naquele tempo, 1995-96, o canal apenas começava.
Tem o desejo de voltar a alguma delas?
Sempre deixei portas abertas. Mas, como hoje trabalho na Band, Bandsports, Rádio Bandeirantes, Lance!, revistas Fut! E Foot Ball, portais Yahoo! e Cidade do Futebol, e mais algumas editoras e uma produtora de cinema, fica difícil sobrar algum espaço.

Qual a dica o senhor daria aos jovens que tem o objetivo de seguir a carreira de comentarista esportivo?
Faça isto, um blog, um site. Meta as caras. Abra o jogo, leia tudo, escreva tudo, veja tudo. E, ao final das contas, você estará sendo pago para fazer algo que você faria pagando.

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