segunda-feira, 11 de abril de 2011

Boleiros da Arquibancada entrevista: Haroldo de Souza

De Belo Horizonte.
Por Matheus de Oliveira e João Vitor Cirilo.

11/04/11 - Haroldo de Souza é narrador esportivo da Rádio Bandeirantes de Porto Alegre. Com passagens pela Itatiaia, Gaúcha e Guaíba, Haroldo é o narrador em atividade que mais Copas do Mundo cobriu.

Haroldo, vamos começar falando de sua vida pessoal. Onde nasceu e de onde veio a sua ligação com o futebol e o rádio?

Foi no dia 10 de dezembro do ano de 1944, na Vila Maria, em Jacarezinho no norte velho do Paraná, que eu desembarquei aqui. Terminava a Segunda Guerra Mundial e eu ainda cheguei a ouvir alguns tiros. Nasci elétrico, poderia ter sido eletricista, mas os fios que me conduziram na vida me levaram primeiro: a ser um jogador ponta direita, mas sem futuro. Era o tempo ainda das chuteiras “Bianca”, couro duríssimo. E o futebol pra mim sempre ligado com o rádio, já que em casa não tinha televisão. Aliás,ninguém tinha. Eu cresci ouvindo rádio, a chegada ao microfone não demorou muito e deu no que deu.


Sempre pensou em ser narrador esportivo?

Sempre que ouvia alguém narrando no rádio me despertava alguma coisa, tipo: saia narrando junto. Era uma confusão em casa. Meu pai que o diga. Ele querendo ouvir o jogo do seu “Curinthia e eu atrapalhando o Nego Benê.


Tem algum ídolo seja no rádio ou no futebol, ou mesmo alguém em que se espelhou?

Na vida me espelhei no Nego Benê, meu pai.

No futebol tenho alguns ídolos em ordem crescente: Nhotó, zagueirão do Caramuru de Castro - Pr. Roderley, um quarto zagueiro que saía pro jogo com extrema categoria e talento. Parecia que deslizava no gramado. O vi jogando no Grêmio de Maringá-Pr. Pelé, sem comentários! Fico uma arara quando comparam o negão ao Maradona. Nada a ver. Em nenhum sentido. Falcão, Carpegiani, Tostão, Gerson, Djalma Santos, Nilson Santos, Ronaldo e Ronaldinho, Kaká, Dirceu Lopes, alguns dos muitos que me encantaram.

No rádio segui a linha romântica do Fiori Giglioti e a precisão da narração do Pedro Luís, ambos locutores do rádio paulista.


Sua primeira chance numa grande rádio foi na Itatiaia de Belo Horizonte. Quando chegou, assustou-se em trabalhar num veículo de maior expressão ou estava preparado para a oportunidade?

Quando tive a primeira oportunidade numa rádio considerada grande no Brasil, a Itatiaia de BH, vibrei. Lembro-me como se hoje fosse a minha estréia. Num Atlético e América no Mineirão. Parecia que eu estava na minha casa.




Quantas Copas transmitiu, Haroldo? Qual a mais especial?

Narrei onze copas do mundo ao vivo. A que mais me marcou a 1970 pela estréia, depois a de 1982 quando o amigo saudoso Telê Santana montou um dos maiores times que vi jogar. Marcou profundamente também a última, a da África do sul, quando eu esperava encerrar minha carreira em mundiais com um título brasileiro. Mas o Dunga não quis.

Como um narrador esportivo deve se preparar antes de uma transmissão?

Cada um tem suas manias. Eu procuro um dia antes me familiarizar com o time adversário, procurando saber quem é quem, que número leva na camiseta, algum detalhe: se é negro, branco, mulato, forte ou baixo e por aí vai. Normalmente meus jogos graças a Deus envolvem sempre Grêmio, Internacional e Seleção Brasileira. E não preciso me preparar para me emocionar com eles. É só viajar com naturalidade pelas emoções que eles me dão.


Você é um narrador que marcou época no rádio gaúcho. Percebemos que muitos profissionais têm como base, como estilo, a narração e o ritmo que você impôs no rádio gaúcho. Você vê isso com grande satisfação ou acha que o narrador não deve seguir um estilo já consagrado?

Acho que é livre seguir um estilo já consagrado, se é que eu sou consagrado, mas o que eu acho meio xarope é a imitação pura e simples. Esta é profundamente lamentável. Porque ao mesmo tempo em que fico orgulhoso por ter feito escola no rádio esportivo, sinto pena daqueles que só tentam imitar e não se preocupam em também criar algo diferente, no mesmo estilo. Estão fadados a serem sempre um imitador. Lamento por quem faz isto. Não impus estilo, eu usei o meu estilo contra, no bom sentido, um estilo que havia arrebatado quase 90 por cento da audiência. A Rádio Guaíba quando eu cheguei aqui em 1974 fazia isto. Pequenas alterações na Gaúcha e o bicho pegou logo. O torcedor também gosta de novidade,e como gosta.


Qual a sua opinião sobre o off-tube (quando o narrador transmite a partida dos estúdios da rádio e não no estádio)?

Eu acho o tubo algo desprezível. Resisti o mais que pude.


A sua transferência da Rádio Guaíba para a Bandeirantes tem a ver com o off-tube?

O off não teve nada a ver com a minha saída da Guaíba. Se continuasse lá eu não estaria fazendo até hoje. No entanto, pela necessidade, aceitei fazer tubo na Band, e acho que até fui bem no primeiro trabalho sem as condições diretas das emoções dos estádios.


A briga entre Rádio Gaúcha e Rádio Guaíba pela audiência dos gaúchos é parelha. Com a sua ida para a Bandeirantes, acha que a Rádio que já tinha um bom espaço na audiência irá se firmar como as duas outras citadas?

Espero sim que alguns ouvintes fiéis me sigam. A Rádio Guaíba tem uma força muito grande nesta área de ouvintes personalizados. Mas tenho recebido adesões de muitos guaibeiros, mais que revoltados pelo que sabem dos motivos da minha saída. Pra mim é bom. Eu acredito sim que a Bandeirantes em breve estará brigando bem perto das duas. Por que não?
Quem o Haroldo de Souza gosta de ouvir transmitindo futebol hoje?

Quando posso procuro ouvir o Zé Silvério da Band SP. Mas para prestigiar o amigo e torcer por sua forma.


Como surgiu o interesse para ingressar na vida política? Qual o motivo da troca do PTB para o PMDB?

Ingressei na política pelas mãos dos Picinini de Canoas e o PTB por causa do Zambiasi, amigo velho da RBS. Mas tive atrito com um camarada dele lá e resolvei tirar o time de campo. Parti pro MDB, é como vejo a sigla deste nosso partido.




Deixe sua dica a quem quer seguir carreira no jornalismo esportivo Haroldo.

Uma dica para quem quer ser cronista esportivo de rádio, jornal ou TV é que deve se preparar para ganhar pouco. A não ser que consigas realmente chegar ao estrelato de ser uma liderança no seguimento. E mesmo assim não é grande coisa. Pelo menos por aqui. No eixo Rio-São Paulo ainda se ganha bem. Mas no restante do país, é fogo no boné do guarda.



Agradecemos muito a disponibilidade e atenção para conosco. Temos certeza que nossos leitores ficarão muito contentes em conhecer um pouco mais sobre um dos maiores de todos os tempos.

Um abraço, sorte pros dois e a certeza do meu carinho e o meu agradecimento pela lembrança ao meu trabalho. Haroldo de Souza, adivinheeeeeeeeeee!


Ouça dois dos mais importantes gols narrados por Haroldo de Souza. No primeiro, a decisão do Brasileiro entre Grêmio e Portuguesa e o segundo, a final do Mundial de 2006 quando o Inter sagrou-se campeão.
Inter x Barcelona - Mundial de Clubes - Narração de Haroldo de Souza by oliveirasouza

1 comentários :

  1. renatoduartedecardoso@hotmail.com2 de agosto de 2011 às 11:51

    renato duarte cardoso de pelotas aroldo de sousa e o maior narrador de futebol do radio brasileiro depois de pedro carneiro pereira

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