sexta-feira, 11 de setembro de 2015

B.A. Entrevista – Raulzinho Neto: Brasileiro chega à NBA para conquistar espaço e se firmar na liga

Ex-minas-tenista e um dos bons nomes da seleção brasileira, armador integra a lista de nove brasileiros na principal liga do basquete mundial em 2015/2016


De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo.

11/09/2015 – “Com certeza, a NBA é outro mundo”. Outro mundo que talvez o armador Raulzinho Neto não imaginasse há sete anos, quando estreou como profissional pelo basquete do Minas Tênis Clube. Entre 2008 e 2015, a história do agora “point guard” do Utah Jazz passou pela Espanha, nos clubes Lagun Aro GBC, de San Sebastián, e pela UCAM Murcia, de Murcia, equipes que serviram como vitrine e experiência para o atual momento de sua carreira: a chegada à NBA.

Além do armador de 23 anos, a liga norte-americana contará com outros oito brasileiros: o ala-armador Leandrinho Barbosa (renovou com o Golden State Warriors), o ala Bruno Caboclo (Toronto Raptors), os pivôs Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers), Nenê Hilário (Washington Wizards), Tiago Splitter (mudou do San Antonio Spurs para o Atlanta Hawks) e Lucas Bebê (Toronto Raptors), além das também novidades Cristiano Felício (pivô, Chicago Bulls) e Marcelinho Huertas (armador confirmado nesta semana pelo Los Angeles Lakers).

Raulzinho chega ao Jazz,  já defendido pelo também brasileiro Rafael "Bábby" Araújo em 2006/2007.
(Foto: NBAE/Getty Images)

Draftado em 2013 pelo Atlanta Hawks (47ª escolha) e trocado com o Utah Jazz, Raulzinho retornou à Espanha para adquirir mais rodagem e voltar aos Estados Unidos agora, “mais pronto”, para a temporada 2015/2016. Porém, conquistar espaço é a missão do brasileiro, que encontrará como companheiros de posição jovens armadores que já estavam em Salt Lake City na temporada passada: Alec Burks (24 anos, 4 anos de liga, lesionado no ombro desde o ano passado) e Trey Burke (22 anos, 2 anos de liga).

Ainda há o jovem Dante Exum (20 anos, um ano de liga e que chegou a ser titular na temporada passada com a ausência de Burks), Bryce Cotton (23 anos, um ano de liga, que esteve disputando a D-League no ano passado) e o calouro Olivier Hanlan (22 anos).

Após passar duas temporadas por um basquete com estilo de jogo diferente, Raul Togni Neto sabe que terá dificuldades. “Vai ser um ano de aprendizado, muito difícil pra mim, mas essa experiência na Europa me ajudou bastante a chegar mais preparado nesse momento que é essa oportunidade que tenho na NBA”.

Raulzinho aceitou gentilmente nos atender em meio à pré-temporada em Salt Lake City e fala não somente sobre a sua chegada à NBA, como também analisa o Jazz e a liga como um todo, além de falar sobre seleção brasileira, que não pôde defender no Pan-Americano de Toronto e Copa América do México por estar fechando o contrato com o novo clube.

"Me considero entre o time", diz Raulzinho sobre a seleção.
(Foto: Gaspar Nóbrega/Inovafoto/Divulgação CBB)

- Qual o sentimento nesse momento da carreira que representa o auge de todo atleta do basquete: chegar à NBA?
O sentimento é de realização de um sonho. O sonho de toda criança que começa a jogar basquete é chegar à NBA. Pude realizar esse sonho que eu tinha e agora é aproveitar a oportunidade e fazer meu melhor aqui.

- Você foi draftado há dois anos, mas passou por mais experiências antes de efetivamente ser chamado pelo seu clube. Acredita que foi importante para adquirir mais rodagem? Vê-se mais pronto nesse momento?
Sim. Me ajuda bastante ter passado esses dos últimos anos na Espanha depois de ser draftado, mas acho que ainda vão ter dificuldades. Vai ser um ano de aprendizado, muito difícil pra mim, mas essa experiência na Europa me ajudou bastante a chegar mais preparado nesse momento que é essa oportunidade que tenho na NBA.

- Estruturalmente falando, já a partir desse momento de preparação, a NBA pode ser considerada um “outro mundo” realmente, mesmo após sua passagem pela Espanha?
Com certeza, a NBA é outro mundo. Eles têm toda a infraestrutura que eu nunca vi em esporte nenhum fora da NBA. Tem tudo que você precisa, sempre alguém à disposição dentro e fora da quadra. Tem muita coisa aqui que em outros lugares não tem. Então, pode ser considerado um outro mundo sim.

- Acredita que terá dificuldades de adaptação? O estilo de jogo é diferente...
Com certeza, vou ter dificuldades. Fisicamente é muito mais pegado, independente do jogo ser diferente. Aqui são muitos jogos em pouco tempo. Eu, acostumado a jogar um jogo por semana na Espanha, vou ter que me acostumar a jogar três, quatro por semana. Vão ser muitas dificuldades, mas é passar por cima delas e fazer um bom papel.


Raulzinho na assinatura do contrato com a franquia de Salt Lake City.
(Foto: Reprodução/Twitter)

- Conhecia o grupo do Utah Jazz antes de chegar para a pré-temporada? O que já tem percebido de positivo?
Bom, conhecia alguns jogadores. Nos últimos dois verões eu vim pra cá treinar, conheci alguns outros, mas não conhecia o time em si, todos os técnicos. Então, está sendo muito bom pra mim essa pré-temporada para poder conhecer melhor cada um pra chegar à temporada bem entrosado.

- Já vislumbra uma possível titularidade logo no começo ou faz parte de um processo?
Acho que é muito cedo pra falar se vou ser titular ou não, se jogarei minutos ou não. Tem toda uma pré-temporada pela frente. Os outros dois armadores (ou três, no caso Alec Burks, Trey Burke e Dante Exum) já estavam aqui ano passado. Tenho que buscar meu espaço, brigar cada dia por esse espaço, e quando chegar a oportunidade eu estar preparado, independente se titular, segundo ou terceiro armador. É fazer o meu melhor independente do tempo em que for jogar.

- Dentro dos elencos que têm sido formados para essa temporada 2015/2016, quais os favoritos e quais as condições do Jazz para o novo ano, na sua visão?
Bom, acho que a NBA muda muito. Claro que San Antonio montou um timaço, Cleveland vem forte, Golden State manteve quase o time todo... são candidatos ao título. A gente ainda está construindo muita coisa, vamos brigar pra entrar nos playoffs. Ainda não dá pra saber porque não fizemos nenhum jogo. É difícil falar agora a condição do Utah Jazz, mas acho que a gente pode brigar por playoffs e os favoritos são os que falei.


Devido à transferência, Raulzinho não pôde defender a seleção no Canadá e México.
(Foto: Divulgação/FIBA Américas)

- Falando também de seleção brasileira, você fazia parte da preparação para Pan e Copa América, mas teve que se apresentar em Salt Lake City. Como foi acompanhar de longe a conquista em Toronto e o que esse grupo tem a crescer para 2016? Considera-se entre os 12?
Muito difícil ter que acompanhar pela televisão. Eu estava em casa. Ter que ver do sofá e não poder ajudar o time é muito difícil. Mas eles fizeram um ótimo papel. Me considero sim entre o time. Acho que fiz parte de mais da metade da preparação para o Pan, então fiquei muito feliz com a conquista deles. Tem uma parte minha ali também. Mas foram eles que fizeram dentro da quadra. Fiquei muito feliz pela atuação de cada um que esteve no Pan-Americano.

- Você saiu do Minas rumo ao basquete internacional e todos ainda se lembram de você como a principal revelação recente do clube. Ainda acompanha o Minas e o basquete brasileiro? O que tem visto e o que tem achado do esporte no Brasil?
Acho que o basquete no Brasil vem crescendo muito. Acompanho os jovens, essa LDB, e se vê muitos jovens com talento, nível pra chegar à seleção, até basquete internacional. Acho que a quantidade de jogadores na NBA, jogando fora, e o nível que a seleção brasileira tem mostrado ultimamente ajuda também para essa molecada que está começando agora ter um exemplo, a quem seguir.

- Quais os próximos passos na carreira, que ainda tem muito a crescer?
Acho que os próximos passos são focar bem esse ano, conquistar meu espaço no time, me manter na NBA, que é o mais difícil depois de chegar aqui. E também com a seleção, ano que vem tem Olimpíada. Um sonho que eu e todos da seleção brasileira temos é conquistar uma medalha. São os próximos passos da minha carreira.


Ouça também a matéria que foi ao ar na Rádio Inconfidência:


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