sexta-feira, 28 de agosto de 2015

B.A. Entrevista - André Nascimento: De volta ao vôlei e Minas Gerais, craque relembra início e projeta futuro na carreira

Destaque do Minas entre os anos 1990 e 2000, o "Canha" defende Montes Claros a partir desta temporada. No B.A., ele relembra a trajetória pelo Minas e o tricampeonato nacional


De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo.

28/08/2015 - O Canha voltou. Ao vôlei e a Minas Gerais. André Nascimento, um dos maiores ídolos da história do Minas Tênis Clube e um dos ícones da seleção brasileira na vitoriosa década passada, irá defender o Montes Claros na temporada 2015/2016. Após optar por uma "breve aposentadoria" por mais de uma temporada, o carioca de São João de Meriti, aos 36 anos, resolveu retornar às quadras e irá liderar o time do Norte de Minas a partir deste sábado (29), quando o MOC estreia pelo Campeonato Mineiro, contra o Unincor/Três Corações, no Tancredo Neves, em Montes Claros.

Um dos ícones da seleção de Bernardinho, André volta ao esporte e a Minas Gerais.
(Foto: Divulgação/FIVB)

Em Montes Claros, André irá conviver com o carinho de uma torcida que costumeiramente comparece em bom número, fato este que fora comum desde o início de sua carreira. O oposto canhoto foi um dos grandes nomes do tricampeonato nacional do Telemig Celular/Minas, vencedor das Superligas de 1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002.

Na entrevista concedida durante a apresentação do Campeonato Mineiro nesta semana em Belo Horizonte, o Canha comenta o retorno às quadras e relembra a grande fase da carreira, vivida no Minas Tênis Clube no início da década passada, antes de se consolidar com a camisa verde e amarela e também defender clubes da Itália e Japão.

***

Retorno às quadras.

Pra mim é um prazer voltar a jogar. Gostaria de agradecer a toda a equipe de Montes Claros por estar retornando ao cenário brasileiro e principalmente em Minas, onde passei por um grande ciclo de vitórias. É um prazer realmente retornar. Estou bastante motivado, bem confiante na equipe que temos, uma equipe jovem. Meu objetivo é estar bem fisicamente, podendo passar alguma experiência pra minha equipe e poder ajudar.

O que você sentiu nesse tempo que ficou fora e por que decidiu voltar? 

Senti muita agonia de voltar. Fiquei um tempo parado e vi que não era a hora de parar, algo como "parou, acabou". Acho que senti realmente essa vontade de querer voltar, de sentir essa adrenalina, e principalmente em Montes Claros, que é uma cidade que abraça o vôlei, torcida bacana. Já joguei contra e sei o que é. Pra mim, é mais um motivo para poder voltar.

Você tem naturalmente uma preocupação de se readequar pra poder jogar, já que a expectativa em cima de você é muito alta, pela sua carreira. Como está sendo a sua preparação individual para lidar com isso de ser uma referência e, naturalmente, fisicamente?

Essa opção minha de ir pra Montes Claros é justamente esse tempo de uma pré-temporada bem feita. Antes de me apresentar já estava fazendo algo fisicamente, nunca parei de tudo, sempre preocupei com a parte física, então, são dois meses de preparação que me ajudaram muito nesse sentido de não começar já em um ritmo de competição. O que eu vou sofrer um pouco talvez seja o ritmo de jogo, já que fiquei muito tempo sem jogar, mas acredito que nos treinamentos, o volume de treino está me auxiliando. A expectativa é estar bem fisicamente o melhor possível, não me machucar, pra acompanhar essa galera nova. Com certeza, passarei minha experiência pra eles, o que já vivenciei, dentro de quadra. Minha preocupação maior é estar bem fisicamente.

André em sua última passagem pelo Minas, em 2010/2011.
(Foto: Alexandre Arruda/CBV)

Você veio para o Minas, em 1998. Você, Ezinho, Vinícius e Douglas Cordeiro, garotada que estava na seleção. Antes disso, qual sua história no vôlei?

Comecei em Juiz de Fora, onde mora minha família atualmente. Comecei na escola, a turma da rua. Depois fiz um teste no Clube Bom Pastor. Fiquei três anos treinando todos os dias, disputei Mineiro por eles, inclusive contra o Minas. Dali foi minha primeira saída, fui pra Suzano. Fiquei três anos na categoria de base, onde disputei Paulista. Suzano foi muito legal, um ponto da minha carreira muito importante, pois pude participar esporadicamente da equipe adulta.

1997 isso, né?

Isso, 1996-1997. Estávamos eu e Ezinho nessa leva e completávamos o time adulto. Tive a oportunidade de jogar a primeira fase do Paulista adulto, e isso foi me ajudando no crescimento. Após esse três anos, chegou a minha parte do Minas, que foi 1998/1999. Cheguei ao Minas, onde era só molecada também, e a gente fez uma campanha muito bacana, apesar de ter uma equipe de base, com juvenil e com algumas experiências. E isso atraiu muitos patrocinadores e público, e aí onde foi montada a grande equipe com Giba, Maurício, Carlão, André Heller...

O Ezinho se recorda que talvez um momento de afirmação dessa equipe tenha sido uma vitória justamente sobre o Suzano, quando o Giba ainda estava lá. 

Verdade, verdade. Isso em 1998-1999. Fizemos grandes jogos com equipes grandes. Isso foi o que desencadeou essa vontade de fazer uma grande equipe também. Eu lembro que ganhávamos do Olympikus, do Tande, do Nalbert, não me recordo bem. Ganhamos esses jogos e isso nos motivou bastante.

Qual o papel do Cebola naquelas três conquistas, desde a chegada ao elenco até a consagração que foi o tricampeonato?

O Cebola, na época, já teve um papel muito importante porque ele propôs a equipe de jogar de uma forma diferente. Eu me lembro direitinho que ele queria que jogássemos de maneira mais rápida, e tínhamos peças para fazer isso, o que facilitou bastante, porque não é qualquer jogador que se adapta a esse tipo de jogo. Então, a ideia dele foi muito bacana, No início, sofremos bastante, até por questão de entrosamento. Mas com treinamento e jogos, encaixou. Nesse ponto ele foi bastante crucial e conseguimos nos adaptar, e aí deslanchou.

André Nascimento (na época, camisa 12) entre os campeões da Superliga 1999/2000.
(Foto: Minas TC)

Naquele primeiro ano, em que você chegou para realmente disputar a Superliga em que chegaram na final (1999/2000) contra a Unisul, mas até então você não era o titular, era o Carlão, e também ainda tinha o Bruno...

A gente revezava bastante nesse sentido, mas eu sempre aproveitando as oportunidades. Foi a partir dali que me firmei na equipe. Foi uma oportunidade que consegui agarrar, as finais da Superliga. Ali já dava um início ao próximo ano para fazer uma Superliga de afirmação, com a titularidade. Não foi fácil, a pressão era muito grande. Eu entrei pra jogar as finais, mas entrei de uma forma diferente. Então, o outro ano foi uma afirmação: "será que ele conseguirá manter isso?". Pra mim, foi um desafio e pressão muto grande, mas consegui aproveitar, e no segundo e terceiro anos tive essa confirmação. E aí me deu muita confiança para eu ir para a seleção também, em 2001, que foi minha primeira convocação para a seleção adulta, onde já estava bastante experiente em Superligas, e daí eu fui aproveitando as oportunidades.

O segundo ano no Minas (2000/2001) foi o que representou mais pra vocês? Isso pela sequência de vitórias que vocês tiveram, 26 jogos, e o ano em que você assumiu a titularidade, assim como o Ezinho, que eram meninos que chegaram, viraram titulares e ficaram muito tempo.

Com certeza, você lembrou bem. Foram 26 jogos invictos, e isso querendo ou não era uma pressão a mais pro time. "Quando é que eles vão perder". E ainda bem que nós perdemos, se não me engano, nas semifinais, porque ainda tínhamos tempo para recuperar. Foi muito legal. Mostra realmente a força da equipe daquela época.

Naquela final contra a Ulbra, você foi o maior pontuador do Minas em todos os jogos, e do outro lado o Anderson (Rodrigues, também da seleção) também era o maior pontuador do time dele nos quatro jogos. Era um espelho já na época? 

Eu já tinha jogado com o Anderson no próprio Minas, o Sul-Americano (1999). E foi muito legal jogar ao lado dele, porque era um cara com bastante experiência, apesar de naquela época estar um pouco parado. Mesmo assim, ajudou bastante nossa equipe, e foi um recomeço pra ele também. É um cara que me ensinou bastante coisa, porque é da mesma posição, e extremamente forte.

Ao lado de André Heller, companheiro também no Minas em 1999.
(Foto: Getty Images)

E como era ser encarado o grande nome daquela equipe que já teve o Giba no início, ele que era a bola de segurança. E você surge como um oposto canhoto, que é uma coisa rara ainda nos dias de hoje. Como era assumir essa responsa?

Foi bem complicado, mas ao mesmo tempo uma oportunidade. Eu tinha que aproveitar isso. Eu não poderia deixar esse desafio, essa pressão, tirar minha oportunidade. Independente disso, eu foquei muito na minha oportunidade e fui. Não deixei essas coisas extras me atrapalharem nesse sentido. Meu foco era aproveitar e não sair mais. E isso vem de trabalho, na sequência de tudo que passei. Essas pressões, esses desafios, naturalmente você vai encarando e vai te fortalecendo também.

A Superliga 2001/2002 foi vencida pelo Minas no masculino e no feminino. Foi o ápice os dois times chegando ao Mineirinho e havia uma uniformidade no trabalho do Cebola, técnico do masculino, e do Antônio Rizola, técnico do feminino?

Isso realmente motivava. A gente sentia naquela época a gente tinha que manter o Minas no topo. Um motivava o outro. Víamos as meninas brigando, lutando jogando, e ao mesmo tempo tínhamos que fazer igual. Manter todas as categorias bem.

Maurício foi o principal levantador com quem você jogou?

Um dos principais, com certeza. Eu até comentava com o Serginho (líbero do Minas na época, e hoje do Sada Cruzeiro). Foi um cara que me ajudou muito no início em equipes adultas, de jogar uma Superliga. Me deu muita tranquilidade pra jogar, até na seleção. Antes de entrar o Ricardinho, era ele.

E qual a importância do Minas na sua formação como atleta?

Foi fundamental. Foi onde eu tive oportunidade, onde fui revelado na Superliga, um início de grandes títulos e vitórias. Onde me deu condição de ser convocado pra seleção adulta, então, foi fundamental pra minha carreira. E é um clube em que tenho muito carinho pelas pessoas, pelos presidentes, todos que estavam envolvidos naquela época, que me deram condições de estar bem no clube. Com certeza, vai deixar saudades.

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