De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo.
27/04/13 - Lágrimas de um campeão, de um cara que ama o que faz, e o faz muito bem. Renato Lamas, 35, ala do Icatu/Minas, um atleta campeão em quase todos os lugares onde passou, poderia muito bem encarar a eliminação nas oitavas do Novo Basquete Brasil 2012/2013 de forma natural. Nada disso. Renato não segurou a emoção ao falar sobre a carreira e mais uma temporada, difícil, que passou. Como ele mesmo disse, "ser campeão não é nada fácil".
Foto: LNB
Durante a entrevista dada após a derrota do Minas para o São José na última segunda-feira (22), resultado que eliminou o time mineiro do NBB 5, Renato colocou para fora o sentimento pós-eliminação que, segundo ele, é a primeira vez que vem tão cedo. Aliás, ele jogou no sacrifício, pois sofreu uma lesão nas costas nesta pós-temporada, outro fato que o abateu, mas não o impediu de lutar até o fim.
Confira o bate-papo na íntegra e, se preferir, ouça no player que vem abaixo, para conhecer um pouco mais sobre a história do experiente atleta, que começou no Ginástico e passou por COC/Ribeirão Preto, Paulistano, Limeira, São José e Pinheiros antes de chegar ao Minas. Deixamos os agradecimentos ao Renato pela disponibilidade e simpatia que sempre teve com este espaço, e desejamos vê-lo ainda por muito tempo em quadra e tendo sucesso no meio esportivo.
Ouça a entrevista na íntegra:
De onde vem a paixão pelo basquete?
Desde pequeno. Eu jogava futebol, como todo brasileiro. Era muito grande. As quadras no Olympico (clube belo-horizontino), uma de futebol e outra de basquete, eram uma ao lado da outra. O técnico era o Elmom (hoje trabalha com jovens em Itaúna), que lançou o Fab Melo, baita cara pra trabalhar com garotada. Ele vivia me enchendo o saco pra jogar basquete. Num belo dia, eu fui, arrisquei. Daí, um mês depois ele foi pro Ginástico, me levou com ele, e comecei ali.
Você falou que foi revelado no Ginástico, é daqui de Belo Horizonte, mas profissionalmente, nunca havia jogado aqui ainda. Como foi receber o convite para voltar a BH e jogar no Minas?
Foi muito legal. Meus pais me cobraram muito esse ano, nessa vinda pra cá. O fato de ter um convite do Minas pesa para qualquer atleta. Um baita clube, baita estrutura, profissionais gabaritados. Fui muito feliz esse ano aqui. Só tenho a agradecer ao clube, às pessoas. Talvez fosse um ano onde esperávamos um pouco mais, passar dessa fase. Pegamos o campeão paulista, vice-campeão nacional, cruzamos com um adversário muito duro. Em um campeonato muito equilibrado, demos esse azar. Mas foi um ano extremamente bom pra mim, em todos os aspectos. (Renato se emociona) Fiquei muito magoado em sofrer essa lesão no final, porque acho que fui o único jogador a jogar todas as partidas no campeonato regular e agora, nesse momento, acabei machucando e não pude ajudar da melhor forma. Acho que se eu estivesse inteiro, a história poderia ter sido outra. Mas foi um ano que, apesar de não ter conquistado o objetivo, fui muito feliz aqui.
A gente nota que você está emocionado. O amor pelo jogo te faz seguir jogando. Por quanto tempo você quer continuar representando, seja o time qual for?
Cara, vou fazer 35 anos agora. Me sinto muito bem. Treino igual os moleques. No jogo, eu corro, marco, minha disposição é igual ou até maior que a deles. Então, vou jogar até onde aguentar. Graças a Deus, o basquete me proporcionou muita coisa. Fiz minha vida com o basquete, fiz meu "pé de meia". Além de jogar, consegui outras coisas que me deixam mais tranquilo. Vou jogar até onde aguentar, por amor, por gostar, porque sou um cara muito competitivo. Vou até quando der, igual o Rogério, quem sabe?
Até quando vai seu contrato com o Minas? Pretende continuar?
Acaba agora. Vai até 31 de maio, acho. Se tiver algum evento, algo do patrocinador, tenho que cumprir, e pretendo continuar sim. Até se tiver uma proposta melhor financeiramente, pretendo continuar mesmo assim.
Defendendo a camisa da Seleção Brasileira.
(Foto: Arquivo pessoal)
Você é um cara que conquistou alguma coisa em todos os lugares. Sabe calcular quantas conquistas na carreira, coletivamente e individualmente?
Acho que sem contar finais, títulos importantes são dez, incluindo seleção brasileira e equipes. Individuais tenho alguns também. MVP do Campeonato Brasileiro em 2003, do Paulista várias vezes... esses prêmios que eles dão aí de seleção do campeonato, que eu acho uma babosada, uma besteira, eu quero é ganhar! Minha mãe é que guarda recorte. Vou perguntar pra ela depois e te mando um email (risos).
Em algum momento da sua carreira, talvez lá no início, você repensou se queria seguir jogando profissionalmente?
Não, eu sempre quis. Eu sou um cara que tenho uma vantagem: sei jogar todos os esportes. Não bem, claro, mas sei jogar vôlei, basquete, sou um cara versátil. Comecei a jogar basquete com 11 anos. Com 13, 14, já ia pra seleção mineira. Com 14, fui pra seleção brasileira, quando acabei saindo de Belo Horizonte. Você pega um amor cedo e vê que tem condição de virar jogador, então foquei nisso. Tentei estudar ao longo da carreira, mas não consegui terminar, porque é impossível. Mas o que eu queria mesmo desde moleque era virar jogador de basquete, e agradeço a Deus pela oportunidade.
Se vê plenamente satisfeito com o que alcançou ao longo da carreira ou vê que poderia ter conquistado algo mais?
Rapaz, tudo o que conquistei eu me orgulho muito, pois foi muito difícil. Você conquistar um título, é muito difícil. Tem jogadores excepcionais que passam a carreira toda sem ganhar nada. Te cito vários. Então, sou um cara muito privilegiado, porque vou terminar minha carreira sendo vencedor. Dentro do meu esporte, sou muito respeitado. (Renato se emociona) Então, eu estou muito triste porque nunca tinha saído antes assim num playoff. É a primeira vez que isso acontece na minha carreira. Acho que estou ficando velho. Com 35, não é hora de acontecer essas coisas. Sou um cara muito competitivo e me acho um vencedor por tudo o que conquistei em minha carreira e tenho muito orgulho disso, muito mesmo, porque não é fácil, não.
Você já pensa no pós-carreira, no que fazer quando parar de jogar?
Sim, penso. Tenho alguns negócios em Ribeirão (Preto). Joguei dez anos lá. Minha esposa e meus filhos são de lá. Já tenho algumas coisas encaminhadas. Adoro estar no meio do esporte. Se eu tiver a oportunidade de fazer Educação Física, quem sabe ser técnico, acho que é uma coisa que eu encararia, que eu gosto. É uma carreira que eu seguiria, além das outras coisas paralelas que tenho lá em Ribeirão.
No jogo desta temporada contra o Flamengo, em BH.
(Foto: Orlando Bento/Minas)
Quem são seus ídolos no esporte, no basquete e na vida?
Michael Jordan foi um fenômeno, um ídolo, um ícone. Jordan e Ronaldo, eu gosto muito, pela história de carreira e vida. Mas o Vanderlei (Mazzuchini, ex-jogador e hoje diretor de seleções da CBB), foi um cara que me ajudou demais. (Renato se emociona) Se não fossem algumas pessoas que passam pela vida da gente, nunca chegaríamos, né? Vanderlei foi um cara no esporte que me ajudou muito, sabe? Então, é um ídolo. Não tenho muito contato hoje em dia, mas sempre que eu o vejo, tenho muito carinho por ele.
Você que já tem uma carreira construída, como encara essa mudança no basquete brasileiro nas últimas cinco temporadas com a chegada da Liga Nacional de Basquete?
Ficou mais organizado. Ainda falta mais investimento, muita coisa, mas a organização melhorou demais em vários aspectos. Agora, precisamos de resultado, olímpico, mundial, pra afirmar ainda mais nossa modalidade. A vinda do Rubén Magnano foi um ponto crucial. Vi uma entrevista do Carlinhos (Carlos Nunes, presidente da CBB), que conheço bem, gosto e acho um cara muito competente, falando que vai tentar fazer um centro de treinamento, como o vôlei tem. Se ele realmente conseguir isso, trabalhar mais forte na categoria de base, manter o Magnano e os técnicos que estão surgindo, como o Raul (Togni, do Minas), o Demétrius, o próprio Cristiano (Grama), nosso técnico do sub-22 aqui, um cara extremamente competente, acho que já já estaremos brigando de igual pra igual com os países europeus, como foi na última Olimpíada. Por pouco, não conseguimos uma medalha.
Para finalizar: se tivesse que dar uma dica pra um garoto que está começando, como tem vários aqui no Minas agora, qual dica você daria?
Acho que treinar muito, observar os jogadores mais tops. Eu aprendi muito observando os caras. Eu peguei o Guerrinha jogador, vi ele passando a bola, e aquilo mexeu comigo, eu queria passar igual. Eu aprendi a passar a bola vendo o Guerrinha jogar. Fazia muito back-door com o Vanderlei. Aprendi olhando. Ver o que o cara tem de bom e tentar trazer aquilo pra você. Foi assim comigo. Talvez sirva para alguns e não para outros. Sou um cara muito observador, e isso me ajudou muito a ter uma leitura de jogo. Quando era garoto, tive a sorte de ser juvenil em grandes equipes, via os caras jogar e aprendi a saber jogar basquete. Hoje em dia, eu vejo a molecada muito NBA, muito um-contra-um, e a leitura do jogo, o que o jogo pede que você faça, a maioria não tem essa leitura. Eu daria essa dica: ver mais a Euroliga, a liga espanhola, do que a NBA.
Confira mais entrevistas na página do "B.A. Entrevista".
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