De Belo Horizonte.
Como maior potência econômica do Brasil, seria óbvio afirmar que São Paulo merece receber a abertura da Copa de 2014. Como também seria óbvio dizer que a cidade teria enorme facilidade em conseguir uma parceria para construir ou reformar um estádio com dinheiro privado. Mas não foi bem assim.
Uma das vergonhas da Copa é reflexo de uma das vergonhas do futebol brasileiro, que é apenas consequência de ter cartolas de nível e índole duvidáveis. Que Ricardo Teixeira não tem um bom relacionamento com a diretoria do São Paulo Futebol Clube, todos sabemos. Sabemos também que a Taça das Bolinhas é uma das discussões mais chatas dos últimos tempos e que, por causa dela, o relacionamento entre dirigentes do tricolor paulista e da entidade máxima do nosso futebol agravou-se.
Como maior (em tamanho) palco do futebol paulista, o Morumbi seria naturalmente o estádio escolhido para receber os jogos da Copa na capital de São Paulo. O fator coerência, no entanto, foi deixado de lado. Levado mesmo em consideração foi a vaidade. Que bela troca, não?
Com o Morumbi descartado pela briguinha CBF x SPFC e o Pacaembu impedido de sofrer grandes reformas (por ser um estádio tombado pelo patrimônio hitórico da cidade de São Paulo), a Arena Palestra, novo estádio do Palmeiras, poderia ser uma opção. O desejo de sediar a abertura da Copa e a regra de que o estádio para a abertura deve ter uma capacidade mínima de 65.000 lugares, descartou o estádio. Justamente quando o estado precisava de um palco para a abertura, o presidente do Corinthians, Andrés Sánchez, anuncia que sairia do papel o tão esperado reduto corinthiano.
Como brasileiros, conhecemos bem o “nosso jeitinho” e para ilustrá-lo, nada melhor do que o exemplo do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e do governador do estado, Geraldo Alckmin. Ambos garantiram que não usariam verbas públicas para construir estádio. Em junho de 2010, a prefeitura soltou uma nota oficial com os seguintes dizeres: “A Prefeitura de São Paulo reafirma sua decisão de não utilizar recursos públicos para a construção de nova arena na cidade de São Paulo, pois entende que o seu papel é fazer investimentos em obras de infraestrutura urbana que melhorem ainda mais o cotidiano dos paulistanos.”
O argumento utilizado por Kassab para desmistificar o uso do dinheiro público é que a prefeitura da cidade apenas deu isenção (ou incentivo) fiscal, mas segundo o artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal, incentivos como este, é sim uso de dinheiro público. Isso quer dizer que a cidade de São Paulo abre mão de uma verba astronômica para que o estádio corinthiano seja construído. Andrés Sánchez, presidente do clube, vai além. Segundo ele, o dinheiro terá retorno natural, já que o estádio desenvolverá a zona leste de São Paulo, em especial o bairro de Itaquera.
Alckmin seguiu os mesmos passos de Kassab. O ex-presidente Lula parece também fazer parte da turminha. Em entrevista à revista Época, em setembro deste ano, Andrés Sánchez revelou: “O estádio do Corinthians custa R$780 milhões, mas eu garanto para você que será mais de R$1 bi. Eu vou pagar setecentos e oitenta, ponto! Na parte financeira ninguém mexeu. Só eu, Lula e Emílio Oderbrecht (dono da construtora que ergue o estádio). Quando a história vier a público não vai ficar feio para ninguém. Não vai ficar imoral, talvez...feio para o Lula. Porque vão falar: ‘Pô, como é que uma empreiteira se sujeita a fazer isso. Por que o presidente pediu?’”.
Esta é uma das situações mais claras de politicagem dos últimos anos. Mais do que uma “copa”, a situação parece uma sala, daquelas de reuniões, onde espertinhos se juntam para planejarem como levar vantagens sobre desfavorecidos. Há várias outras salas que ainda não temos noção e que talvez nem tenhamos. A corda já começou a arrebentar e o primeiro a cair foi o ministro dos esportes (agora ex), Orlando Silva, que foi cobrado com justiça por conta dos atrasos das obras para a Copa. Quem será o próximo?
Hoje, a bola esteve comigo, Matheus de Oliveira, mas já passo-a para o competentíssimo Edu Carmo dominá-la com categoria e, amanhã, continuar batendo bola com vocês.
Abraços a todos, beijos a todas.
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