terça-feira, 29 de novembro de 2011

"Boleiros da Arquibancada" entrevista: Emerson Pancieri

Por João Vitor Cirilo e Matheus de Oliveira.
De Belo Horizonte.

29/11/11 - Olá, leitor do Boleiros da Arquibancada! Estamos de volta com mais uma entrevista. Como você pôde conferir, na última semana, conversamos com Leandro Mota, repórter e apresentador da Rádio CBN de São Paulo. Hoje também trazemos um bate-papo com um jornalista, outro companheiro do Sistema Globo de Rádio.

Estamos falando de Emerson Pancieri, repórter e comentarista da CBN/Rádio Globo em Belo Horizonte. Emerson chegou a pouco tempo ao Sistema Globo em Minas, mas já tem longa experiência no Jornalismo Esportivo, inclusive já tendo trabalhado em várias outras casas como narrador.

Por meio desta entrevista, conheça um pouco mais sobre a carreira de Emerson Pancieri, além de conferir suas impressões sobre o esporte em 2011, e outros assuntos.

Desde já, agradecemos ao Pancieri pela atenção prestada à nossa equipe e desejamos muito sucesso na longa carreira que tem pela frente.

Emerson em uma de suas apresentações no "Futebol Show" da Rádio Globo Minas.
(Foto: Emerson Pancieri)

Para começar nosso papo, vamos conversar um pouco sobre a profissão. Poderia nos contar um pouco sobre o porquê da decisão de se tornar um comunicador?
Todo mundo pergunta quando somos crianças: “O que você quer ser quando crescer?”. Respondia que queria ser médico ou advogado. Quando cheguei na 8ª série do Instituto Sagrada Família essa resposta mudou e passou a ser Jornalista. Muito pelos hábitos que tenho desde novo. Gostava de sintonizar rádios de outras cidades com meu avô e meu tio para ouvir jornadas esportivas, programas e noticiários. Na escola sempre gostei de fazer aqueles trabalhos que o professor pedia para achar uma reportagem sobre determinado assunto no jornal. Depois tínhamos que explicar para a turma ou fazer um cartaz com as matérias. Gostava também quando os professores pediam uma redação em formato de reportagem. Quando tinha que fazer teatro na escola arranjava um jeito de colocar um jornalista na história e o papel ficava comigo (risos). Quando cheguei ao terceiro ano já tinha certeza na opção para o vestibular. E lógico, antes de escolher fiz teste vocacional, conversei com profissionais da área e mesmo com aquela frase: “Ainda dá tempo de você desistir”, hoje estou aqui com a formação em jornalismo. Não foi uma escolha só pela emoção e pelo querer. Procurei me informar bastante sobre o curso antes de entrar na faculdade.

Para aqueles que não conhecem sua trajetória no jornalismo, poderia nos dizer em quais veículos de comunicação já trabalhou?
No segundo mês de faculdade comecei a fazer estágio na área e, curiosamente, em televisão, mais precisamente no Núcleo de TV da Newton Paiva, que na época ficava na TVC (Canal 13 da Net). Fiquei um ano e quatro meses por lá, na produção, reportagem e apresentação do “Descolado” (esse programa é exibido na TV Bandeirantes, atualmente). Um período de muito aprendizado e contato com um veículo que cursaria disciplinas na faculdade a partir do quarto período. Ali foi o começo e muito importante para a vida acadêmica e profissional. Aliado à TV, fazia plantão de esportes na Rádio Transamérica, que na época transmitia jogos. Digo que foi a primeira oportunidade na área de esportes, o começo dentro de uma editoria que sempre gostei. Porém, o futebol na emissora acabou e neste intervalo deixei o "Descolado" e fui para Central de Produção Jornalística da Newton Paiva, onde fiz reportagem e edição do Jornal Holandês (impresso voltado para pecuária leiteira com assuntos de saúde, política, economia, agronegócios). Antes do contrato com o jornal acabar, passei no teste de estágio para Rádio Band News FM, onde fiquei um ano e aprendi bastante do jornalismo factual e do formato Hard News. Depois fui para Rádio Emater-MG, e tive oportunidade de fazer reportagens (algumas eram veiculadas na Rádio Inconfidência) e apresentava alguns programas. E sempre conciliava o estágio com futebol. Na época, narrava na Rádio Favela 106,7 FM. Após formar, passei pela Entre Colunas Comunicação, novamente pela Rádio Band News, O Tempo, até chegar ao Sistema Globo de Rádio.

Vasculhando por essa internet, vi alguns videos seus narrando futebol pela 98 fm de Teófilo Otoni. Seguiu muito tempo como narrador ou foi por certo tempo? Hoje em dia, havendo a oportunidade, seguiria na narração?
A primeira oportunidade como narrador foi na 98 FM de Teófilo Otoni, no Campeonato Brasileiro de 2007, na partida que terminou Grêmio 1 x 0 Atlético, gol de Diego Souza. Narrei também na Rádio Ativa de Bom Despacho, Super Rádio Teófilo Otoni, Caraça de Itabira, além da Rádio Favela, em Belo Horizonte. Acho a narração de futebol incrível, pois você tem que trabalhar a imaginação do ouvinte com uma jogada, em que lado do campo, quem estava no lance e sempre com muita emoção. Na narração de TV a imagem é um recurso que conta muito, diferente do rádio. Depois da Rádio Favela fiz alguns jogos no interior, e também propagandas que precisavam deste estilo de locução. Creio que tudo é questão de preparo e momento propício para isso. Acho que devemos saber de tudo um pouco. O jornalismo precisa do profissional polivalente.

No início da profissão, quais eram seus objetivos profissionais? E hoje, permanecem os mesmos?
O objetivo profissional era conseguir atuar na área após a formatura e em rádio, um veículo que sempre tive grande preferência. Posso dizer que o objetivo agora é fazer que todo dia de trabalho seja o primeiro. O que isso quer dizer? Encarar as tarefas com muito aprendizado, amadurecimento e pronto sempre para desafios. 

Há alguém em que você se espelhe na profissão, Pancieri?
Conheço muitos profissionais desde a faculdade até a chegada ao mercado de trabalho que incentivaram, deram dicas, conselhos, e são exemplos no jornalismo. No Sistema Globo de Rádio tenho a oportunidade de trabalhar com vários colegas que são ótimos profissionais e que com eles “tenho aula de jornalismo diariamente”.

No nosso último programa, gravado em semanas anteriores a essa, discutimos o assunto: “Afinal, o jornalista esportivo deve ou não dizer seu time do coração?”. Qual a sua opinião sobre isso?
Vale de pessoa para pessoa, jornalista para jornalista. Uma coisa que ninguém pode esquecer é que o jornalista tem preferências, hábitos, costumes. Pode torcer para o time tal, gostar do partido z, e ser pautado pela ética no exercício da sua profissão. Alguns colegas dizem, outros preferem deixar nas entrelinhas. Acredito que se o produto final, a notícia não ficar comprometida não há problema algum revelar o time. Porém, tem o outro lado: muitos torcedores não entendem isso, não aceitam críticas de determinado jornalista, porque ouviu dizer que “ele é Flamenguista” e acha que se emite tal opinião, quer menosprezar o time. Por isso, é um assunto muito polêmico e que vale inclusive mais debates entre os profissionais.

Há pouco tempo, um colega seu do Sistema Globo de Rádio faleceu: o mestre Luiz Mendes. Para vocês, mais jovens na profissão, qual a importância de se trabalhar com um companheiro como ele?
Sempre ouvi o mestre Luiz Mendes “Minha gente”, “comentarista da palavra fácil”. Não me esqueço do dia que fiz pela primeira vez o Enquanto a Bola Não Rola. Quando o Eraldo Leite me dava “boas vindas”, o Mestre Mendes tomou a palavra e disse algo mais ou menos assim: “Seja bem vindo garoto, muito sucesso nesta casa!”. Além do nervosismo normal fiquei sem palavras, porque estava conversando com um ícone do rádio no mundo. Mendes narrou a final da Copa de 1950, no Maracanã, a Copa de 58, além de outros fatos que marcam para sempre o esporte. Foram palavras que me emocionaram muito e sempre as guardarei na memória. Estive no ar com o Mendes poucas vezes e não tive oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. De qualquer maneira, a simplicidade, objetividade e facilidade que falava de futebol era impressionante e um exemplo a ser seguido por todos nós.



Conversando um pouco agora sobre o futebol. Em sua opinião, qual o principal motivo das péssimas campanhas das equipes mineiras na temporada 2011?
No caso de Atlético e Cruzeiro creio que o principal motivo das campanhas desastrosas foi a estratégia e o planejamento adotado. O Atlético contratou 22 jogadores, alguns por enormes quantias, e que precisavam ainda de uma readaptação ao futebol brasileiro por terem passado bom tempo na Europa. Porém, chegaram com uma grande expectativa e responsabilidade de substituírem Obina e Tardelli, fato que ainda não aconteceu. Outros atletas não se enquadraram na linha de trabalho do Dorival Jr. e por isso foram preteridos, assim como o treinador que caiu após a derrota para o Figueirense, no Ipatingão. O time conseguiu ganhar “uma cara” no fim do Campeonato Brasileiro e por isso se safou do rebaixamento. Já o Cruzeiro, desmontou uma estrutura de time, uma base com a venda de Gil, Henrique, Thiago Ribeiro, Dudu, e paga por isso. A diretoria se preocupou em fazer caixa, dinheiro e não lembrou que o Brasileiro é um dos campeonatos mais difíceis do mundo. Outro erro foi deixar o Cuca ir embora. É nítido que ele é um treinador diferenciado e melhor do que se comparado aos que passaram pela Toca: Joel (Santana), Emerson (Ávila) e Mancini (Vágner Mancini). O América mostrou que poderia ter ficado na elite do futebol brasileiro se não tivesse tomado 11 viradas no Brasileirão. O clube, mesmo com a fragilidade financeira, se comparado aos outros times que disputam a Série A fez boas contratações e, mesmo com a queda, não fez feio. Se a estrutura de time e futebol for mantida pode subir em 2012.

O presidente Zezé Perrela deixa o Cruzeiro em 2011, num ano em que o clube foi marcado por fazer sua pior campanha na história do Brasileirão de pontos corridos. Zezé sai afirmando que “o seu trabalho deve ser avaliado num geral”, se absolvendo de uma possível culpa nessa campanha atual. Qual a sua opinião sobre esse assunto? E mais: o Cruzeiro cai ou não?
O Cruzeiro joga todas as suas fichas na partida de domingo, no clássico contra o Atlético. Se vai ser o jogo da vida do time celeste, posso dizer que vai ser a partida do ano para o Galo. Imagine: rebaixar o principal adversário? Acho que o Cruzeiro é um time previsível, fraco, assim como foi a administração do clube nos últimos anos. O que adianta chegar na final da Libertadores, mas por limitações da equipe perder para o Estudiantes? O que vale jogar a principal competição sul-americana e não ganhar? Houve um abandono do time por questões pessoais. O time vem sofrendo com a falta de um centroavante há muito tempo, assim como um lateral-esquerdo. Um zagueiro firme foi vendido. Acho que o Zezé Perrela se preocupou muito tarde com o Cruzeiro e agora pode não dar mais tempo de salvar a equipe de um rebaixamento. Além disso, fez piada em época que não podia. Chegou a dizer que mudaria o nome se o Cruzeiro caísse, em um período que o clube desabava com a venda de jogadores importantes. Enquanto o Atlético contratou muitos jogadores, o Cruzeiro com discurso de base do ano passado desfez o planejamento no meio da temporada e pode pagar caro.

No Atlético, o presidente Alexandre Kalil deve ser reeleito para mais um triênio no comando do clube. Alguns dizem que o trabalho vem sendo excelente, outros que não é bem assim. Qual a sua avaliação sobre o trabalho do presidente alvinegro?
O Kalil é um bom dirigente. Está menos torcedor e mais administrador. Quem ganha com isso é o Atlético. Porém, no ímpeto de acertar, pode errar e se enganar completamente como no ano passado e neste ano. Ano passado, porque fez as vontades do Luxemburgo que mudou um time Campeão Mineiro com base e tudo mais por uma nova equipe no meio da competição. O resultado todo mundo viu: quase rebaixado. Neste ano, contratou dois times inteiros e apenas isso não vale no futebol. Para um time ter sucesso precisa ter entrosamento dos jogadores, um atleta precisa conhecer o outro, o estilo de jogo. Neste aspecto acho que ele errou, mas o presidente do Galo é do tipo que prefere pagar pelo excesso que pela omissão. Antes do segundo semestre, acertou na contratação do Cuca que considero um bom treinador e que conseguiu reverter um quadro que parecia de um inevitável rebaixamento.

E o América? Qual o porquê do insucesso no Brasileirão?
O América lutou com pouco recurso financeiro para contratar jogadores, mas mesmo assim teve bons atletas na competição: Rodriguinho, Kempes, Marcos Rocha, Neneca, Leandro Ferreira, Amaral. Acho que o clube precisa continuar com o Givanildo Oliveira. O técnico fez um bom trabalho e conseguiu extrair o melhor de cada jogador. Um erro da diretoria americana foi a contratação do Antônio Lopes que nada agregou e foi responsável pelo pior placar do time no Brasileirão: 4 a 0 para o Ceará em um jogo que ele fez oito alterações no time titular. Foi um equívoco dos dirigentes contratarem um técnico ultrapassado e que pode cair com o Atlético Paranaense. Mas acho que se o América conseguir renovar o contrato de alguns atletas, contratar bons reforços, pode fazer um bom Campeonato Mineiro e Brasileiro, inclusive subindo no ano que vem, afinal terá um aliado importante: o Estádio Independência e o torcedor do Coelho, que é de Belo Horizonte.

Em sua visão, quais os destaques positivos e negativos de 2011 no esporte brasileiro?
A denúncia contra o ex-Ministro do Esporte Orlando Silva sobre a possível participação num esquema de desvios em convênios com organizações não-governamentais é algo que mancha o país que vai sediar a Copa. Outro aspecto negativo são as demoras nas construções de alguns estádios como a Arena das Dunas, e as indefinições da Lei Geral da Copa. Outro destaque negativo foi a participação do Brasil na Copa América, com uma Seleção fraca, sem identidade e um treinador ainda muito questionado, com razão, pelos brasileiros. Entre os pontos positivos estão o César Cielo e as quatro medalhas no Pan, algumas boas competições que o Thomaz Belluci teve na temporada, a indicação do Neymar para melhor do mundo e a permanência do jogador do Brasil.

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