segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A velha guarda do futebol - Parte I

Nesta série, dividida em 4 partes, você conhecerá a história e as curiosidades das tradicionalíssimas charangas. Na estreia, é apresentada a origem das charangas e também um causo em que uma partida teve de ser interrompida por conta dos músicos/torcedores. O caso chegou a parar na Justiça Desportiva.


Por Rodrigo Vessoni - Revista Roxos e Doentes, 2009, ano 2, edição 5.


Encarregados de dar força aos times, as charangas vencem dificuldades para manter uma tradição de mais de 60 anos nos estádios brasileiros.
Foto: globoesporte.com
Dedicação ao clube, amor à música e muito fôlego. Assim são os torcedores das charangas que, apesar das dificuldades, mantêm uma tradição de mais de 60 anos nas arquibancadas do Brasil. Exercendo papael semelhate ao da velha guarda das escolas de samba, são elas que puxam o entusiasmo do público no estádio. Quem nunca sentiu a energia desses grupos pode imaginar o que é a mistura dos sons dos mais variados instrumentos de sopro, metal e percussão (trombones, surdo, clarinete, pistons, trompetes, etc), tocados à exaustão por tantos apaixonados.

Apesar de reconhecidas como patrimônio histórico dos clubes, as bandinhas que entoam suas marchinhas para empurrar o time sofrem com o descaso dos dirigentes e a proliferação de aglomeração de torcedores. Não é por acaso que as charangas são conhecidas como as mães das torcidas organizadas.

O começo
O ano era 1942. Na final do Campeonato Carioca, Flamengo e Fluminense se enfrentavam nas Laranjeiras. Ao escutar a música de uma bandinha flamenguista, o compositor e locutor de futebol Ary Barroso, da Rádio Tupi, afirmou: “Isso não é uma banda, é uma charanga, desafinada e barulhenta”. O que era para ser uma ofensa virou incentivo para o fundador da charanga flamenguista, Jaime de Carvalho, que “carnavalizou” a arquibancada. Nascia ali a pioneira das organizadas no Brasil. No ínício com 20 integrantes, o grupo cresceu e fez história, inspirado na criação de inúmeras outras pelo país a partir das décadas de 1940 e 1950.
Jaime de Carvalho (meio), fundador da charanga flamenguista
Foto: flamengoeternamente.blogspot.com
Curioso é que a charanga sofreu resistência do meio esoprtivo. A desafinação revelou-se estratégica para atrapalhar a concentração dos adversários, já que o grupo se posicionava atrás do gol inimigo. Reza a lenda que, numa partida contra o São Cristóvão, no quarto gol do Flamengo, o goleiro do time do subúrbio  carioca perdeu a paciência e foi reclamar com o juiz sobre o barulho. O juiz ordenou a retirada imediata da charanga, e o caso foi parar na Justiça Desportiva. Além de anular a disputa, alguns dirigentes queriam banir o grupo dos jogos.

Wilson Batista é o sambista que melhor exalta a profissão de fé daquela charanga: “Pode chover/ pode o sol queimar/ que eu vou parar pra ver/ a charanga do Jaime tocar: Flamengo, Flamengo!/ tua glória é lutar/ quando o Mengo perde/ eu não quero almoçar,/ eu não quero jantar”.


Alguns adversários diziam que aquele grupo “era uma chatice”, mas a proibição não foi atendida pelo presidente da Federação Metropolitana, Vargas Neto. O também cronista do Jornal dos Sports compartilhava os mesmos princípios do seu diretor, Mário Filho, jornalista que promovia as escolas de samba e o futebol profissional como espetáculos de massa, desde 1930. Mas era necessária a formação de um público leal, que assistisse às competições de maneira animada e sem excessos. Um líder de torcida que auxiliasse o trabalho do chefe de polícia era, portanto, bem-vindo. Em meio às críticas, o grupo de Jaime vingou, graças também ao sucesso do Flamengo, que sagrou-se tricampeão carioca (1942, 1943 e 1944).

A segunda parte da série mostrará a atuação das charangas na Copa de 1950, quando um Maracanã lotado, influenciado pela banda de torcedores, ajudou o Brasil na épica goleada por 6 a 1 sobre os espanhóis. Confira, nesta quarta-feira.

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