domingo, 21 de agosto de 2011

"Boleiros da Arquibancada" entrevista: Marco Zanni

De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo e Matheus de Oliveira.

21/08/11 - Olá, amigos! Apresentamos à vocês mais uma de nossas entrevistas. Dessa vez, batemos um papo com o excelente repórter da Rádio CBN de São Paulo, Marco Zanni. Agradecemos desde já ao Zanni pela gentileza de nos atender.

Falamos sobre sua carreira, futebol brasileiro, esporte especializado e outros assuntos. Leiam essa entrevista abaixo e deixem suas opiniões sempre que puderem.

Descreva sua trajetória desde a formação até chegar à Rede CBN.
Cursei jornalismo na Cásper Líbero, turma de 2005. E, como não tinha muita certeza se era isso o que eu queria da vida, fui trabalhar logo para sentir o ambiente de redação. Com três meses de faculdade, eu já estava num jornal pequeno de Osasco, cobrindo política e cultura. Logo fui para uma agência de notícias chamada AutoInforme, especializada em veículos. Lá eu produzia boletins para as rádios do grupo Bandeirantes. Em 2007 fui trabalhar na revista Info, da editora Abril, escrevendo sobre tecnologia e também participando do programa Você High Tech, da extinta TV Ideal. Ainda produzo matérias de tecnologia para duas revistas: Playboy e Pequenas Empresas & Grandes Negócios. E ano passado fui parar nos campos da vida como repórter da CBN. O próximo passo, quem sabe, é vender pastel na feira ou dirigir caminhão.

Você já teve experiência na imprensa escrita, na TV e tem no rádio. Em qual dessas mídias mais gosta de atuar?
Minha formação é a do texto, sem dúvida. Mas honestamente não tenho uma preferência. Cada mídia permite explorar traços diferentes do mesmo assunto. Escrever me ajuda a pensar de maneira estruturada. Na televisão, pude ganhar desenvoltura para falar com o público. E o rádio tem me trazido a experiência da cobertura imediata, do papo direto e rápido com as fontes e, principalmente, da conversa com o ouvinte. No fim das contas, gosto de trabalhar em veículos que me dêem liberdade e condições de produzir boas reportagens.

O jornalismo esportivo era uma meta ou foi uma conseqüência na sua carreira?
Sempre ouvi futebol no rádio, desde aquela narração histórica do José Silvério em Palmeiras x Corinthians, final do Paulistão de 93, na cobrança de pênalti do Evair. Mas nunca tinha pensado em seguir essa carreira, até pouco tempo atrás. Comecei a fazer jornalismo porque gostava de música e pensava em trabalhar na cobertura cultural, com resenhas de discos, essas coisas. Quando me formei, tive um tempo livre e criei um blog sobre história do futebol, no qual entrevistava jogadores sobre partidas clássicas. Por causa disso, passei a pesquisar mais e me aproximar do meio futebolístico. Doente por esportes, eu sempre fui, tanto que joguei voleibol e nadei por muitos anos.

De que você é um bom repórter, todos não temos dúvidas. E numa brincadeira nas transmissões da CBN, pudemos acompanhar você mostrando suas habilidades como narrador. Ainda quando criança, tinha a vontade de ser narrador ou a reportagem sempre foi o objetivo?
Eu tinha um amigo argentino, chamado Jean, que falava muito rápido e adorava narrar jogos. A gente brincava de transmitir as peladas da molecada no colégio, mas eu era o comentarista. Tudo mezzo castelhano, mezzo português. Também narrava partidas de videogame e de botão, mas nunca levei a sério. Acho que não tenho dom para isso, apesar de o pessoal na rádio aprontar esses desafios de narrar gols de vez em quando. Isso é coisa do Leandro Mota, que inventa de fazer a gente pagar mico.

Já teve algum desentendimento com jogador, treinador ou algum dirigente por perguntar algo que o entrevistado não queria ouvir? Como lida com isso?
Desentendimento sério, eu nunca tive com ninguém. Mas receber respostas mais bruscas é algo comum quando a gente faz um trabalho independente e crítico. Nas saídas de campo e entrevistas coletivas pós-derrotas, então, não é raro levar algumas patadas do pessoal com personalidade mais forte, como o Felipão e o Muricy. Tento levar essas coisas numa boa, porque a função do repórter é perguntar sobre o assunto do momento. E a do treinador, jogador ou dirigente é proteger seu clube. Para isso, às vezes eles precisam ser mais ríspidos. Só não podem faltar com a educação. Assim como o jornalista não deve provocar o entrevistado só para ver o circo pegar fogo ou bancar o justiceiro no lugar do torcedor revoltado.


O melhor momento do repórter esportivo é o furo de reportagem, a descrição de um gol... ou destacaria algum outro?
O furo está ficando cada vez menos importante, em alguns aspectos. Você publica que o Piraporinha contratou Fulano, e daqui 15 minutos todos os sites estão escrevendo a mesma coisa. Mas é claro que a informação exclusiva continua sendo uma base para o bom jornalismo. Quanto à descrição de um gol, é algo geralmente emocionante e desafiador: resumir em poucos segundos e de maneira atraente o momento máximo do futebol, tentando pegar na veia qual foi a coisa mais importante do lance. Mas eu diria que, no fundo, o grande objetivo de qualquer jornalista (esportivo ou não) deve ser contar uma boa história, sobre a qual ninguém havia pensado antes, e da melhor maneira possível – ouvindo fontes importantes de todos os lados, recheando com detalhes que criam um cenário colorido, tratando o assunto de maneira crítica. É um desafio para o dia a dia. Muito difícil de cumprir, mas gratificante quando o resultado traz algo de relevante para quem lê, ouve ou assiste.

Zanni, como eu (João Vitor) conversava com você pelo twitter, o caso do doping de Cielo teve um tratamento especial. Conte para os nossos leitores sua opinião sobre o tratamento recebido pelo nadador brasileiro, sendo que em outros casos essa postura não foi adotada, como no caso de Rebeca Gusmão.
Cielo é um grande atleta, um ídolo brasileiro e, claro, ninguém gostaria de vê-lo condenado. Mas uma coisa é torcer para que algo não aconteça, outra é tratar assuntos parecidos de maneira desigual. Olhando o fato de maneira isenta, foi exatamente isso o que aconteceu. Enquanto o caso da Rebeca levou mais de um ano para ser julgado na entidade máxima, o Cielo teve todas as regalias: em menos de um mês, tudo estava resolvido, com testemunhas ouvidas pelo Skype e tribunal itinerante para não atrapalhar a preparação dele para o Mundial. Casos de Furosemida jamais tinham recebido penas menores de seis meses, e isso é outro fato. Mas não posso dizer se o julgamento foi justo ou não. Falta-me conhecimento jurídico e dos detalhes do processo para isso. O que dá para dizer é que houve mobilização em torno do Cielo para uma solução rápida e sem efeitos colaterais. Infelizmente, agora o nadador fica devendo uma para as confederações que ele tanto criticou um dia. Tenho a impressão de que o atleta questionador não existirá mais. Tomara que eu esteja enganado.

O Corinthians abriu uma boa vantagem nesse início de Brasileiro. Acredita que a equipe manterá o bom futebol e será o campeão ou é cedo e temos outros times com capacidade para também chegar lá?
É normal oscilar num campeonato tão longo. E isso já está acontecendo com o Corinthians. Mas vejo uma equipe muito sólida, disposta a marcar a saída de bola de maneira incansável. E com alguns talentos que podem resolver na hora do aperto, como o Liédson e o Alex. Quando precisou do banco, o Tite também viu caras como o Emerson darem conta do recado. Mas desde o começo considero o Flamengo mais time, tendo tudo isso e mais o Ronaldinho, melhor jogador do torneio, até agora, e o Thiago Neves, peça fundamental que tem corrido muito pelo time e correspondido quando precisa usar sua habilidade. Fora os dois, vejo um Vasco muito coeso, mas que deve perder força, caso se distancie dos líderes em algum momento, por já ter assegurada a vaga para a Libertadores. São Paulo e Palmeiras são figuras antagônicas: o primeiro tem talento, mas falta experiência e cara de time, além de peças de reposição; o segundo tem estrutura definida, mas escassez de protagonistas que chamem a responsabilidade. Resumindo, acho difícil alguém pisar tanto no acelerador a ponto de bater a consistência de Flamengo e Corinthians.

Qual sua avaliação do trabalho de Mano Menezes no comando da Seleção?
Ele começou bem, com discurso de renovação e postura de que ia realmente tocar essa mudança na Seleção. Mas tem patinado. Quando deixa Ganso no banco e coloca Fernandinho para jogar contra a Alemanha, mostra claramente um abandono de suas convicções pela manutenção do emprego. Fecha o meio de campo pensando no resultado, e não na evolução da equipe. Quando perde, fica sem o respiro da vitória e não forma o time que tem na cabeça. Renovação é um processo e exige planejamento a longo prazo. Mas já se foi um ano de trabalho, e a idade média dos jogadores da Seleção ainda é de 26 anos. Enquanto os alemães, que começaram a botar pensamento parecido em prática em 98, têm uma equipe quase pronta para a Copa com média de 23 anos. Mano escolheu o caminho difícil: montar um time com base em toque de bola, apoiado em jovens promessas que podem não vingar (Lucas, por exemplo, é um caso de jogador supervalorizado, ao menos por enquanto). Mas pegou um legado terrível de Dunga, que não deixou nenhuma dessas sementes plantadas para a renovação. O que a Seleção tinha de bom na Copa, que era um time armado para contra-atacar mortalmente, Mano fez questão de deixar de lado. Em minha opinião, de maneira equivocada.

Recentemente alguns meios de comunicação vêm fazendo denúncias sobre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Quem gosta do futebol cada vez mais vem demonstrando indignação com o cartola, porém vemos alguns jornalistas defenderem-no, alegando que com ele a CBF teve um grande avanço assim como a Seleção. O que pensa sobre o assunto?
Gostaria que o futebol fosse tratado como coisa pública, e não negociado com base em interesses que não os da torcida e dos clubes. O continuísmo político cria raízes para relações escusas em qualquer esfera, e não é diferente na CBF. Tirando isso e o fato de que Ricardo Teixeira não é um cidadão lá muito ligado em futebol, vamos avaliar essa entidade como uma empresa, tomando como base seus produtos. Ela “organiza” um Campeonato Brasileiro que está clamando por atenção. Com grandes jogadores, equilíbrio entre as equipes, valorizado pela televisão. Contudo, o calendário patético já estragou metade do torneio com jogos de Seleção, desfalques provocados pela falta de possibilidades de uma pré-temporada decente e uma janela de transferência que vai deixando os times em frangalhos durante a competição. (É bom dizer que grande parte disso é culpa dos clubes subservientes.) A CBF também promove uma Seleção cada vez mais distante do povo, antipática por natureza e que faz de Londres sua casa. Essa entidade não move uma agulha pelos estádios sucateados que encontramos Brasil afora – e isso explica a violência e os públicos cada vez menores nos jogos. Mesmo diante desse cenário caótico, as mesmas pessoas estão na linha de frente do comitê organizador para o Mundial. Usando dinheiro público até para o cachê da Ivete Sangalo em festinha, mesmo tendo 11 patrocinadores e lucro de quase 90 milhões de reais todo ano – dinheiro que vai para onde mesmo? Enfim, nem precisamos entrar no mérito de qualquer denúncia para provar que a CBF é um desastre para o futebol brasileiro. Os frutos já estão dizendo isso.

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