quarta-feira, 6 de julho de 2011

Conexão Fut: Entrevista com Fábio Lucas Neves


06/07/11 - Trazemos à vocês uma entrevista que o companheiro Gustavo Carratte realizou com o jornalista Fábio Lucas Neves. A entrevista foi originalmente publicada no http://www.vozdofutebol.com.br/blogs/conexaofut/ no dia 06 de junho de 2011 e a disponibilizamos agora aqui também no Boleiros da Arquibancada.

No fim da manhã dessa segunda-feira paulistana, no escritório do Terceiro Tempo, localizado na Av. Paulista, o Conexão Fut entrevistou o jornalista esportivo Fábio Lucas Neves, de carreira brilhante nas emissoras de TV Bandeirantes e Record, além de passagens pela rádio Jovem Pan e pela Rádio Bandeirantes, quando iniciou na profissão, aos 18 anos.
Nascido em 13 de Julho de 1980, é casado com a também jornalista Roberta Peporine, e pai de duas meninas: Giulia e Maria Beatriz.
No ano passado, na África do Sul, realizou o seu grande sonho profissional, que era participar da cobertura de uma Copa do Mundo.
Hoje, é editor-chefe do conceituado site Terceiro Tempo, de Milton Neves. Dono também da sua própria agenda, explica bem os motivos que o levaram a pedir seu desligamento do grupo de repórteres da Bandeirantes para se dedicar à colheita de café no sul de Minas.
Você é filho do jornalista Milton Neves, um dos mais conhecidos da televisão brasileira. Não apenas tem esse parentesco muito próximo, como também, durante toda a sua infância, certamente conviveu com inúmeros também jornalistas esportivos, e esse gosto pela área acabou sendo inevitável. Mas você acredita que essa vontade se desenvolveu apenas por isso ou naturalmente existiria essa vocação?
Houve influência, sem dúvidas. Desde garoto, aqui nesse mesmo prédio, estava sempre com o pessoal da Jovem Pan, dois andares acima de onde estamos agora, e é claro que houve influência. Convivi com grandes nomes do jornalismo esportivo, vinha na rádio aos fins de semana, mesmo durante a semana também vinha aqui, mas também não adiantaria nada ter um pai jornalista se eu não sentisse que tinha vocação, né? Então, o fato de sempre ter ido bem na aula de português na escola, modestia à parte fazia boas redações, tirava boas notas, professores elogiavam os textos, isso tudo ajudava. Quando passei no vestibular, passei em jornalismo em algumas faculdades, e logo de cara percebi que era algo que me satisfazia. Pelo menos naquele momento da minha vida, eu só pensava naquilo e, realmente, foi a escolha certa pra época. Fiz uma carreira bacana em algumas emissoras de TV, em rádio, e fiquei muito satisfeito com o resultado da minha carreira até aqui. Acompanhei o rádio esportivo, todo dia lia o Estadão, jornal que minha família sempre assinou. Não só meu pai, mas minha mãe também sempre me incentivou a ler. Então, não tem como falar que não houve a influência, porque ela é bem clara, mas sem uma vocação, digamos assim, não adiantaria de nada. Tanto é que tenho dois irmãos que são publicitários.
A influência existiu e, claro, pode existir até hoje em alguns aspectos. Por ser filho do Milton Neves, de uma maneira indireta ou direta, você é alvo das opiniões dele, ou até mesmo de preconceito, por muitos acharem que você só está ali por ele ser seu pai?
Acho que dá pra responder em duas partes. A primeira delas, até vou ser irônico, claro, mas muitas vezes digo que tenho dois pais: Um para que os torcedores xinguem, e o outro que tenho dentro de casa. Se, durante todos esses 13 anos de carreira, eu não tivesse tido a capacidade de separar uma coisa da outra, certamente não teria continuado. Já ouvi muito xingamento por causa dele, evidente. Até em 2004, na Arena da Baixada, jogo do Atlético-PR contra o São Caetano, parte final do Campeonato Brasileiro, onde o Atlético e o Santos brigavam pelo título, claramente houve uma tentativa do clube paranaense de atingí-lo me usando, que foi o caso de quando atiraram um copo d’água no campo, e disseram que pressionei a 4ª árbitra a colocar aquilo na súmula. E a história foi a seguinte: Eu estava cobrindo o próprio Atlético, o outro repórter, o São Caetano, e o Atlético venceu por 5×2 aquele jogo, de virada e tal. Antes do jogo, o comentarista Paulo Roberto Martins, o Morsa, do Terceiro Tempo que antes era na Record, disse que o Atlético-PR era nuvem passageira, que o Santos seria campeão. O meu pai, também santista, foi na mesma linha, e fui lá fazer o jogo pela Record, mas sinceramente não mudaria nada pra mim quem fosse campeão ou deixaria de ser, sabe? Não sou santista, não sou atleticano, grande coisa quem fosse campeão daquele ano. Chegando lá, clima hóstil pra Record, né? Olhares feios dos próprios companheiros de imprensa, e antes mesmo de chegar já sabiam. Houve até uma recomendação para não usar uniforme da emissora nas ruas, só pra você ver até onde chegou, mas enfim. Chegamos no jogo, fomos no carro até com segurança, torcida xingou muito quando entramos no campo para fazer a transmissão, mas também faz parte. O São Caetano abriu o placar, aí o Atlético empatou. Segundo outro repórter que estava conosco, Marcio Moron, houve o arremesso de um copo d’água no gramado, e ele realmente falou com a 4ª árbitra: “Você viu o arremesso desse copo?”, e ela nem respondeu. E eu ali do lado. O Atlético virou, continuou na briga pelo título, e voltamos pra São Paulo. No dia seguinte, às 9 da manhã, toca o telefone e era o repórter da Gazeta do Povo de Curitiba perguntando o que eu tinha a declarar sobre as acusações do clube. E eu, claro, nem sabia de nada. “Como assim, que acusação?”, até perguntei pra ele. Ele disse que pressionei a árbitra sobre o arremesso do copo, pra interditar a Arena, pra prejudicar o Atlético, na briga contra o Santos. Disse pra ele que não estava sabendo, que iria atrás de mais informações e pra ele me ligar mais tarde. De fato, entrei na internet, tinha lá e tal. Os caras compraram meia página no jornal, alguns amigos me mandaram a matéria, dizendo que tinha feito aquilo tudo, citando que era anti-ético, uma vergonha pro jornalismo, enfim. Processei o clube, ganhei a indenização, até doei o dinheiro, porque graças a Deus não preciso de clube nenhum pra viver, nem pagar minhas contas. E isso foi o que de mais grave aconteceu nesses anos todos, nessa parte de responder pelas atitudes do meu pai. No dia a dia, é claro que as redações onde trabalhei, principalmente com ele, houve uma cobrança de que eu não poderia errar. Difícil ser tão bom quanto, até porque as funções eram diferentes, mas realmente eu não tinha o direito de errar. Precisa ser sempre o melhor possível e um exemplo pros outros porque era filho de um cara importante no departamento de esportes, e tinha de ser uma espécie de espelho pros outros. No começo foi difícil lidar porque todo mundo quer ser julgado por aquilo que faz apenas, uma análise individual, mas depois percebi que era impossível, que as pessoas não tinham o discernimento e capacidade de diferenciar uma coisa da outra. A minha única alternativa de minimizar isso era trabalhar muito. Cumpri escala como todos os outros, cumpri as mesmas obrigações que os outros tinham, até porque sempre me vi apenas como mais um repórter, não como alguém que merecesse algum tipo de tratamento diferenciado. Nunca tive isso. Sempre fui tratado como um repórter, assim como todos os outros, e sempre agradeci a todos por isso.
Hoje, você não é mais apenas jornalista. Trabalha também em outras áreas. Fale um pouco sobre como estão sendo esses novos planos na sua vida…
Comecei com 18 anos, e sempre trabalhei como repórter. Fora um início difícil de plantão, atender ouvinte, e toda aquela rotina que você tem que passar, pra deixar você mais “cascudo” pra profissão, que é extremamente difícil, desgastante, muito tempo longe da família, que exige muito da sua paciência, da sua agenda, do seu tempo, do seu humor, e tal. Depois de tantos anos, tenho duas filhas pequenas, chegou uma hora que não aguentava mais a falta de agenda. Quer dizer, gostaria de ter um planejamento de vida, eu mesmo definir o que faria da minha semana, enfim. Queria ter as rédeas da minha vida comigo o tempo todo. Definir o que iria fazer em cada dia da semana. E em redação de qualquer emissora de televisão, rádio, ou até mesmo internet, não iria conseguir fazer isso. Foi o momento em que decidi deixar essa carreira pra fazer outra coisa. Claro, acho que tinha muito a evoluir, fiz minha primeira Copa no ano passado, experiência fantástica, bati na trave em 2006, na Alemanha, fiz milhares de jogos pela TV, mas acho que foi um ciclo que chegou ao fim. Não me sentia mais motivado em ter que lidar com pauta, com escala, não deslumbrava mais isso. Agora, tenho esse site pra tocar, o Terceiro Tempo, que está crescendo com uma equipe fantástica, e nessa época do ano começou a colheita de café nas fazendas da família no sul de Minas Gerais, e, como estou com essa disponibilidade de agenda, decidi passar toda a semana de terça a sexta lá, ajudando a coordenar, comandar e via skype ou telefone estou em contato permanente com a redação aqui de São Paulo também.
Sua saída do grupo de repórteres da Band, então, tem mesmo tudo a ver com essa sua escolha.
Ligação direta com isso. A Band foi maravilhosa, um período muito bacana, mas eu também não poderia ser injusto com a empresa. Por uma questão pessoal, não queria mais continuar, e não poderia mais insistir. Não conseguia me dedicar 100%. E o jornalista que não faz isso, não faz um bom trabalho, porque é muito desgastante. Você precisa ficar o tempo todo ligado, focado, comprometido, disposto a fazer horas extras, a passar uma madrugada editando, separando material, chegar mais cedo no trabalho para entrar em contato com fontes, tentar marcar matérias exclusivas, bolar uma série. Fiz isso ao longo dos três anos que fiquei na Bandeirantes. No dia em que vi que não tinha mais essa motivação pra manter esse estímulo vivo, resolvi sair para não me tornar um cara injusto com a empresa que me pagava.
Claro que, apesar de ter cansado após tanto tempo, obviamente optou por essa carreira por ser um apaixonado pelo jornalismo. Ainda no seu período de total satisfação com o que fazia e no que trabalhava, houve algum momento em que você se arrependeu da escolha que fez? Alguma data importante que teve de trabalhar, ou algo do tipo. Pensou que não fez a escolha certa, ou que então poderiam haver outras mais vantajosas pro seu lado pessoal?
Nunca me arrependi, não. Claro que em alguns momentos, cansado, estressado ou irritado com alguma situação, você pensa em algumas coisas de cabeça quente e tal. Sempre tive muita certeza daquilo que eu queria e não senti esse arrependimento. Com esse processo de motivação vivo dentro de mim, com certeza não. O jornalista que olha pro lado e não olha pra frente, para. O cara não consegue andar. Quando esse processo começou a se acumular, foi exatamente agora. E já resolvi parar. Mas continuo com o site do Terceiro Tempo, que talvez seja até uma missão mais intrigante do que fazer parte da equipe de reportagem de uma emissora de TV. Já recebi também convites para fazer blog, mas hoje não consigo fazer mais nada. Agradeci, mas não pude atender aos convites. Mas mantenho minha carreira como jornalista. Não parei porque sai da TV. Apenas precisava um pouco mais de tempo pra minha agenda mesmo, para a minha vida pessoal.


Jornalista esportivo é o termo usado pra definir a profissão, mas muitos são jornalistas de futebol, se é que existe essa denominação. Você se considera um jornalista esportivo mesmo, ou é um jornalista de futebol apenas? Não que seja demerito, mas pra definir a sua área de atuação dentro do jornalismo.

Me considero um jornalista esportivo, digamos, com pós-gradução em futebol, né? Acho que como a grande maioria. São poucos aqueles se dedicam a outros esportes que não sejam o futebol, e os que fazem são abnegados. São caras que você tem que tirar o chapéu mesmo, porque o incentivo ao esporte amador no Brasil é muito pequeno. O espaço na mídia é muito pequeno. Cobri o Pan em 2007, uma experiência muito legal, foi o máximo que me aproximei do esporte amador, que, às vezes, inclusive, é mais profissional até que o futebol. Fiz alguns jogos de vôlei pela Band, de vôlei de praia com o Luciano do Valle por uns dois anos pela Record. Gosto muito de tênis, joguei basquete, nadei, então principalmente basquete e natação acompanho muito, mas nas mídias em que trabalho não falo muito sobre isso. Aqui no Terceiro Tempo, estamos setorizando o site. Tem o Terceiro Set para o vôlei, Bela máquina para o automobilismo, Três Pontos para o basquete. Então, quer dizer, a garotada do site está se especializando nesses esportes pra termos um portal esportivo, e não só futebolístico. É um grande desafio. O Brasil é um país monoesportista, não há dúvidas. O incentivo aos outros esportes, como disse, é muito pequeno. Só vai mudar se houver algum apoio na mídia. Futebol já tem seu espaço conquistado, seria bacana que os outros também crescessem. Deveria haver essa conscientização para não sermos apenas um país monoesportista, e isso parte desde a exibição das imagens dos jogos olímpicos ou pan-americanos, que seja, quando ficamos por 4 anos aguardando medalhas, e quando o atleta que teve patrocínio apenas para aquela competição é premiado, porque é terrível de se conseguir patrocínio nesses esportes, a câmera foca nos olhos do atleta, e não mostra as marcas dos patrocinadores. Isso tudo piora a situação.
E como foi que surgiu a parceria com o Rica Perrone? Inclusive, todas as segundas estão fazendo o podcast Muy Amigos, que vem tendo uma boa repercussão.
O Rica Perrone é um sujeito que está tendo uma ascensão meteórica na carreira, tem um texto fantástico. Brinco muito com ele, mas ele é um cara competente demais. A gente grava esse podcast pra Globo.com toda semana, excepcionalmente nessa segunda-feira a gente não vai gravar por alguns motivos. Ele está no Rio de Janeiro e tal. Ele foi ouvinte do meu pai a vida inteira. Os dois criaram vínculo por transmissões que meu pai fazia, com o Rica mandando mensagens ou e-mails pra ele, sei lá, e criou uma empatia com o cara. Se conheceram quando trouxe ele aqui, os dois nunca tinham se visto e tal. Nem sei por quê. Aliás, até sei. É porque o Rica é um cara muito inteligente, mandava umas mensagens criativas, meu pai lia, gostava e exaltava, né? O Rica Perrone é jornalista, são paulino, tinha um site chamado Estação Tricolor, estava todo dia no CT da Barra Funda do São Paulo, e naquela época eu também ia ao longo desses últimos anos pelo menos uma vez por semana. A gente iniciou uma amizade, ele se apresentou falando “Sou o Rica Perrone, o cara que seu pai fala”, e ele é um cara engraçado e tal, e a gente desenvolveu uma amizade. Aí a Estação Tricolor acabou, e ele iniciou com o Blog do Rica Perrone, que fez muito sucesso, e a Globo.com pegou para linkar. A gente já tinha tentando alguma coisa no ano passado, um programa de rádio que acabou não vingando, negociamos com algumas emissoras, mas seria muito trabalho pra pouco retorno naquele momento, e preferimos abortar. Mas ficou aquela vontade de fazer algo juntos, até porque ele também mexe com internet, além do blog tem uma empresa que gera conteúdo para celular, e ele me chamou para fazer esse podcast com ele depois que saí da Bandeirantes. Até pelo blog ser da Globo, preferimos não arriscar, mas agora está dando certo. Aqui na Avenida Paulista temos um estúdio profissional para gravar, está tendo uma repercussão legal, as pessoas têm gostado, pode até ser um embrião de algo maior. Gostamos de trabalhar juntos, pensamos parecido sobre futebol, quando não combina também quebramos o pau, e é aí que está a graça. Mas é uma parceria bacana, e acho que tem muito futuro.
Antes do Brasileirão começar, certamente, você tinha alguns palpites para campeão, Libertadores, rebaixamento. Depois dessas primeiras rodadas, mudou alguma coisa? Quais os times que entraram na sua lista? Algum saiu?
Desde o início, sempre tive a convicção de que o grande favorito era o Cruzeiro. Nem posso dizer que era, porque depois de três rodadas não posso dizer que está fora, mas o começo não foi pouco animador só pelos resultados. No primeiro jogo, perdeu pro Figueirense, mas jogou muito melhor. Contra o Palmeiras o empate também foi um placar injusto, merecia ter vencido. Mas contra o Fluminense confesso que não assisti ao jogo, mas pelo o que li fez uma partida ruim, e o Deco desequilibrou, Rafael Moura fez dois gols e tal. A única coisa que me deixa preocupado quanto ao Cruzeiro é a instabilidade emocional do Cuca. O time teve um baque muito grande com a eliminação da Libertadores, daquele jeito que foi na desclassificação para o Once Caldas, em Minas Gerais, e nesses momentos de crise ele geralmente não vai tão bem, e não sei se o Cuca, emocionalmente, vai conseguir segurar a barra por lá. Mas, agora, com o Roger voltando, com o Gilberto definindo que fica, depois de ter negociado com o Botafogo, Brandão se adaptando melhor no time, com o elenco completo, mantenho como um dos favoritos, sim. Gosto muito do Cuca, até pessoalmente. Acho ele um cara espetacular, mas sabemos que, pelo histórico dele, nesses indícios de crise, ele não sabe lidar tão bem com a situação. Se ele conseguir reverter isso, estabilizar o time, e ficar com o título no final do ano, se credencia como o principal técnico do país, porque nenhum time dos Brasil joga tão bem quanto os times de Cuca. Sempre jogam muito bem, mas em algum momento importante, talvez por aspectos emocionais, falham.
E quais os outros favoritos?
Meus três candidatos a título são, ou foram antes do início do campeonato, Cruzeiro, Internacional e Santos, talvez invertendo a ordem dos dois últimos. O Inter passa por um processo de renovação com o Falcão, vai demorar pra pegar o jeito do técnico. Sai o Celso Roth, um cara que privilegia mais a parte defensiva, se preocupa em arrumar a defesa pra depois pensar do meio pra frente e tal. O Falcão não. Chegou querendo colocar o time no ataque, jogando bonito. Então há um processo natural de transição. Já jogou bem contra o América-MG. Mas acho que ele deu uma deslizada feia quando disse que o elenco não tem condições de ser campeão brasileiro. Acho que ele jogou mais a responsabilidade pra cima dos jogadores. Assim, ele perde o grupo, e é esse o meu medo. Ele não quis tirar do grupo o peso de ser favorito, como um ou outro disse. Ele quis jogar na cara do grupo que, não sendo campeão, a culpa é dos jogadores e não dele. Essa é a minha interpretação, pelo menos. Mas, apesar de todos os problemas, é um time muito forte, elenco muito bom, vai se reforçar, e é grande candidato, sim.
E para a Copa do Brasil entre Vasco e Coritiba? Vantagem importante de 1×0 dos cariocas feita em casa, ainda mais nesse regulamento que valoriza não sofrer gols dentro de casa, embora seja um placar perfeitamente reversível. Quem você acha que leva?
Primeiro que essa goleada de ontem entre reservas não muda absolutamente nada, né? São contextos diferentes, mas vale pra lembrar sobre o desfalque do Anderson Aquino, que entrou no Brasileirão por estar suspenso pra final da Copa do Brasil, resolveu, fez três gols, mas desfalca o Coxa na quarta-feira. Então acho que não tem favorito, não. É meio clichê, mas é o que você disse. A vantagem é perfeitamente reversível. Mas gostaria muito que o Vasco fosse campeão. Seria o ressurgimento de um gigante que não deveria ter ficado adormecido há tanto tempo assim. O último título que ganhou foi em 2003, e mesmo assim um estadual, que, pra mim, não serve pra nada há muito tempo, mas muito tempo mesmo. O Flamengo, por exemplo, foi campeão carioca invicto, e depois foi vaiado por ter perdido em casa pro Ceará na Copa do Brasil. O Internacional foi campeão gaúcho e o Falcão estava quase caindo. Então, quer dizer, o estadual não muda a vida de ninguém. A minha torcida não é pessoal pelo Vasco, assim como naquele caso do envolvimento de Atlético Paranaense, São Caetano e Santos também não tinha. Quem ganhar, ganhou, pra mim não muda nada. Mas gostaria de vê-lo campeão por ser um gigante que não deveria ficar tanto tempo sem ganhar nada. Já passou da hora de voltar a ser campeão. Mas se o Coritiba for campeão também está em ótimas mãos. Como diria o Mauro Beting, que vença o melhor.
Pra final da Libertadores entre Santos e Peñarol, o favoritismo é inegável para o Santos, mas você acha que existem boas chances de uma surpresa?
Nesse caso, acho que o coração pesa um pouco. Gostaria de ver o Santos campeão da Libertadores. Gosto do clube, sou muito grato a ele. Meu pai veio para São Paulo por causa do Santos. Nem sou santista, mas tenho um carinho muito grande, sou super bem tratado na Vila Belmiro, muita gratidão e muito respeito, mas o time vem jogando mal, né? Não vem jogando tão bem. E chega uma hora que, como diz o próprio Muricy, a bola pune. Toda a equipe vem dependendo muito do Neymar. Vai que o garoto, assim como não desequilibrou contra a Holanda, não consegue fazer o mesmo contra o Peñarol. Ganso pode pintar aparecer no primeiro jogo da final, mas provavelmente apenas no segundo. Edu Dracena não joga, Jonathan também não, Léo é dúvida. Quer dizer, o Santos brincou com a Libertadores ao longo do Paulista, escalando time completo pra jogar em um torneio que, na minha opinião, não vale nada. Montou o time pra Libertadores, e os jogadores agora estão baleados. Perda do Ganso é muito sentida. Vale lembrar que contra o Cerro Porteño, quando o Santos venceu na fase de grupos, foi ele que desequilibrou. O time estava sem Neymar, Elano e Zé Eduardo, e o Ganso foi quem chamou a responsabilidade e resolveu a parada. Com o Muricy, o time melhorou defensivamente, mas sem Neymar inspirado também não ganha.
Você tem uma avaliação mais detalhada sobre o Muricy? Gosta dele, do método que ele imprime nos seus times, filosofia de trabalho e estilo de jogo?
Ele é um cara vitorioso e competentíssimo. Disso não há dúvidas. É fiel a tudo aquilo que prega no futebol, o que muitos até chamam de Muricybol, e com certa razão. Não joga bonito, pra dar espetáculo, mas vai lá e ganha. Ninguém pode contestar isso. O que me deixou chateado com ele foi essa saída do Fluminense, porque qualquer técnico tinha esse direito, menos ele, por sempre ter adotado a postura de ética, repetida incansáveis vezes nas suas entrevistas, e ele rasgou tudo o que sempre disse que fazia, que era parceiro, que não abandonava o barco e tal. Sinto nele um certo constrangimento por conta disso ainda. Claro que ele está à vontade, mas não a ponto de ser o que sempre foi durante a vida toda. Acho que ele perdeu um pouco a pose. Um técnico vitorioso ainda é, mas perdeu parte daquela postura que era dele. Até pra mim, que sou um cara que admiro muito o trabalho dele, foi algo que pegou mal.
Em um texto seu, publicado em Março, de título “Valentes nos clubes. Covardes nos estúdios”, você fala sobre um outro tipo de postura dos treinadores, que nas coletivas distribuem respostas mal educadas, e em programas de televisão ou rádio são bem diferentes. O Muricy é um deles?
Ele melhorou muito nisso. Algo que me irritava bastante, porque era um no estúdio e outro com os repórteres. Não posso reclamar disso dele porque ele nunca me destratou, sabe? Muito pelo contrário. Até fora do ar, sempre foi muito gentil comigo. Mas ele, como o Luxemburgo e alguns outros, dá patada na garotada e no estúdio com os grandões ficam iguais a carneirinhos. O Luxemburgo, pra falar a verdade, já vi fazendo o mesmo com cara grande, pelo menos isso. O Muricy, puxando pela memória, não me lembro.
Você também disse sobre um técnico que está em um gigante a nível nacional, que não ganha um título importante há algum tempo, e teve uma história curiosa sobre esse tipo de comportamento dos treinadores, e talvez tenha sido o que te motivou a escrever aquele texto.
Essa história é realmente bem curiosa. O técnico é o Celso Roth, estava no Atlético-MG. Assim como o Leão, ele é um cara que se você liga agora pedindo entrevista, com ele desempregado, você é como se fosse o pai dele, sabe? Mas aí ele assumi algum clube e volta a ser aquele cara arrogante, prepotente, olhando você de cima pra baixo. E a inspiração daquele coluna nem foi essa história, mas uma recente do Luxemburgo que ameaçou até interromper a entrevista coletiva se continuassem as perguntas sobre o Adriano ir ou não para o Flamengo, claro, antes dele fechar com o Corinthians, e ainda disse com todas as letras que não vetou o Adriano do Flamengo. Saindo dessa coletiva, deu uma ou duas horas e ele foi pro Show do Apolinho, Washington Rodrigues, que talvez seja a voz mais pesada do rádio esportivo do Rio de Janeiro. Flamenguista, já foi técnico do Flamengo, amigo do Vanderlei há muitos anos. E aí o Luxemburgo começou a falar ao vivo do Adriano, admitou que realmente vetou a chegada dele, mas que havia a possibilidade de reversão e tal. Por que não agiu da mesma forma com os repórteres na Gávea? No programa de rádio, ele falava com desenvoltura, bom humor, bem diferente do que foi visto poucas horas antes. Então foi esse o real motivo, a inspiração. Lembrei alguns casos e fiz aquela coluna. A história do Roth foi no Esporte em Debate da Rádio Bandeirantes, acho que em 2009, quando ele estava desempregado, e na outra semana assumiu o Atlético-MG. E o Eduardo Affonso, hoje na Estadão ESPN, participou do programa, e o Celso Roth ali foi a Madré Teresa de Calcutá, participou, brincou, foi maravilhoso. O Atlético veio jogar no Pacaembu contra o Corinthians, e o Eduardo, até com certa amizade por ter se dado super bem com ele há pouco tempo em uma mesa de pizzaria, pediu uma entrevista naquele momento, e ouviu um “Não falo antes do jogo”. O Carpegiani e o Ricardo Gomes, caras super educados, também não gostam de falar antes dos jogos, mas ele espera você perguntar e diz assim: “Putz, você se importa se eu não falar? Não me agrada. A gente conversa depois”. Normal, o cara fala a hora que ele quiser. Sabe? Totalmente diferente. Isso é educação, outra coisa é a empáfia, prepotência. E o Eduardo Affonso disse “Quando você estiver desempregado, também não te chamo para comer pizza”.Foi um pouco pior, mas mais ou menos por aí. Infelizmente, alguns técnicos, quando estão empregados, formam um escudo contra a imprensa, e deveria ser o contrário. O poder da mídia é muito forte. Construindo uma boa relação com os jornalistas, você está bem. O Muricy é mestre nisso. Repórteres reclamam dele, mas ele tem relações ótimas com os que são verdadeiramente formadores de opinião. Tente lembrar algum “pesado” que não o elogie. Todos amam o Muricy, porque ele é afável com esses caras. O Celso Roth, que é mal educado com todo mundo, acaba sendo o diabo na terra. O cara é atual campeão da Libertadores, e está desempregado. Quando o seu nome surge nas listas de possíveis contratações de alguns técnicos, vira piada, sabe? Não há ninguém na mídia que o defenda.
E sobre a Copa de 2014? Você participou da sua primeira Copa na África do Sul no ano passado, viu de perto muita coisa. Acha que temos condições de fazer um organizarmos um grande Mundial?
Se o Brasil fosse um país sério, nem teria a Copa aqui. Fui a favor no início, não tenho vergonha de falar, mas por acreditar no Brasil, achar que com um evento desse tamanho os políticos tomariam alguma vergonha na cara, mas não. Quer dizer, os caras são incorrigíveis. Hoje, me arrependo. O objetivo não é melhorar o país, até porque não existem obras de infraestrutura acontecendo. Por enquanto, são estádios superfaturados, e só. Dinheiro público em estádios, não há obras de infraestrutura, aeroportos são uma vergonha. Se fosse um país sério, repito, falaria pra Fifa levar pros Estados Unidos, pro Canadá, qualquer outro lugar, mas que aqui não tem condições de fazer. Acho que a Copa vai sair sim, é inevitável. Quer dizer, acho que vai sair, né? Mas tenho medo do resultado prático disso. Acho que vai haver um rombo financeiro enorme e pouco retorno pra população. Sem contar que um bom resultado da Seleção Brasileira na Copa do Mundo pode fazer todo mundo esquecer muita coisa. São coisas que não podem se misturar, mas inegavelmente vão. Sendo campeão, vai até ter gente dizendo que valeu a pena e tal. Infelizmente é assim.
Partindo mais ainda para o lado particular, um jogo inesquecível para você, tanto pessoal quanto profissionalmente?
Como torcedor, foi o São Paulo x Newells Old Boys, na final da Libertadores em 92. E a pior decepção foi a perda do título em 94 para o Vélez. Como jornalista, difícil de falar um jogo inesquecível. Os jogos da Copa foram todos legais, né? Já tinha visto o Brasil na Copa no título em 1994, então o último Brasil x Holanda não pesa tanto. Acho que jogo inesquecível mesmo foi o Corinthians x São Paulo no Morumbi, segundo jogo da semifinal do Paulista de 2009, que teve aquele gol do Ronaldo em cima do Bosco, que ganhou na arrancada do Rodrigo. O que o cara fez foi um negócio impressionante. Foi coisa pra ficar olhando embasbacado pro que ele fez. Na final contra o Santos eu não estava, na Vila, aquele outro golaço, mas fiz as duas partidas das semifinais, e o jogo do Morumbi foi fantástico. Em 2009, todos os jogos do Ronaldo foram especiais pra quem cobriu, sem dúvida. Porque eu, por exemplo, vi pouco o Romário. Eu vi mais na fase decadente dele. Comecei a fazer cobertura de futebol em rede em 2003, então peguei ele no Fluminense, no Vasco, mas não vi o Romário fazer mágica, né? Vi também o Zidane, em um jogo, mas o Ronaldo eu vi mais. Desses grandes que estão entre os maiores, vi só o Ronaldo. Cada jogo que cobri dele foi especial, realmente muito legal.
Muitos jornalistas atualmente dizem que esse Barcelona foi o grande time que viram jogar. O Mauro Beting, que você conhece, é um deles. Você tem uma opinião parecida?
Eu vou falar sobre essa final contra o Manchester, e o que eles fizeram é muito difícil de igualar. Claro que você não consegue pegar o Santos de Pelé, o Real Madrid do Puskás, mas eu gostaria de ver esse Barcelona jogando contra os grandes times da história do futebol. Tenho certeza que daria jogo duro. O Mano Menezes disse com muita inteligência que eles não foram perfeitos porque a perfeição não existe no futebol. Mas o nível de excelência que eles atingiram na final é algo muito difícil de algum outro time conseguir repetir. Você citou o Mauro Beting, é um especialista, historiador das seleções de todos os tempos e tudo mais, quer dizer, não é uma opinião a toa, né? Tem seu valor, e grande valor. O que fico impressionado é que o Barcelona fez o Manchester United, gigante, parecer um Zaragoza. E tem outra coisa também importante, que é quando contestam o Messi, dizendo que só quando ganhar uma Copa será melhor que o Maradona, melhor que o Pelé jamais. Concordo que ao Pelé, jamais, e que a comparação com o Maradona ainda é precoce, mas a aceitação mundial que ele tem é muito grande. Ironicamente, na Argentina é o lugar onde ele é mais contestado. Um time dessa qualidade, encaixado desse jeito que é o Barcelona, o cara conseguir se diferenciar no meio de tantos craques? Xavi, Iniesta, outros grandes jogadores como Daniel Alves, Villa, um time fantástico, e ele ainda consegue ser o melhor do time fantástico? É uma pena que muitas vezes ainda consigam puxar sempre pro lado negativo. Aliás, é uma dica caso algum estudante de jornalismo estiver lendo essa entrevista. O jornalista tem de ser crítico, mas não ser burro. O cara chupa 15 limões antes do trabalho e fica falando um monte de besteiras, sempre comentários depreciativos, que o futebol é uma porcaria, não presta. Sim, tem muita coisa errada, mas tem que denunciar, fiscalizar e propor soluções. E tem muita gente, hoje, na imprensa esportiva que só está detonando, e sem propor nada. O José Silvério, acho que em 1996 ou 97, foi o reponsável pelas reformas no Morumbi. Na Jovem Pan, ele sempre dizia que a cabine iria cair, e todos dizendo que ele estava louco. O São Paulo, pressionado pelo Silvério e pela rádio, mandou fazerem uma fiscalização lá e, de fato, estava condenado, poderia cair. Inclusive, boa parte do dinheiro da venda do Denílson foi usado para comprar amortecedores e colocar no Morumbi. O estádio foi reformado e está aí até hoje. Então, gostaria que o pessoal novo do jornalismo não se preocupasse apenas em detonar, e fizesse como o Silvério. “Ah, tenho opinião, sou polêmico”, isso é bobagem. Jornalista bom é aquele que critica, fiscaliza e propõe solução. E vejo poucos fazendo isso. É uma pena pelo fato do produto futebol estar sendo depreciado, e pouca gente fazendo algo para ajudar. Alguém inventa uma tese que na prática não resolve, muitas vezes essa pessoa nunca andou de trem ou metrô, nunca foi a um estádio de futebol. Alguns jornalistas precisam de um banho de realidade. Entender o que é o futebol não só no ar condicionado, mas também no campo.
Ainda sobre o Barcelona, você inclusive citou o Zidane dizendo que foi um dos grandes que viu jogar, e o Xavi é, sem dúvidas, um dos grandes motivos por esse sucesso do Barça. Perguntar se ele é o melhor jogador de meio campo que você viu é difícil, até porque o Zidane também foi meia – apesar das características diferentes, o que deixa ambos jogarem juntos sem problema algum -, mas ele é um dos muito bem rankeados nessa sua lista?
Sem dúvidas. Iniesta também, que são jogadores complementares. Sozinhos, eles são muito grandes, mas viram gigantes quando estão juntos. Acertam o meio de campo de qualquer time do mundo. Não vou ficar exaltando o futebol brasileiro ou tendo restrições para elogiar o futebol de lá por algum motivo ou outro, né? O que é bom aqui, a gente elogia. O que é bom lá, a mesma coisa. A diferença é que, por exemplo, antes chegava o Ronaldo para o Barcelona, o Rivaldo ou o Romário para o mesmo time, Maradona, o Falcão pra Roma, enfim. Hoje, nem tanto. Não é mais o conjunto europeu aliado a um talento sulamericano. Ainda tem, claro. Messi e Daniel Alves, junto de Xavi e Iniesta, são os grandes nomes do Barcelona, mas hoje também tem o Cristiano Ronaldo, por exemplo. Tem gente que pega no pé dele, mas se tivesse no Brasil já estaria sendo comparado ao Garrincha, sei lá. Tudo bem, o cara é firulento e tal, mas é completo, bom em cabeceio, velocidade, bola parada, chute, drible, artilheiro do último Campeonato Espanhol, 40 gols em um campeonato. Jogador fantástico. Aquele que critica ele, faço a pergunta se queria ele no seu time. Se o cara responder que não, é louco. Dá pra resumir bem essa discussão.
Qual é o seu grande ídolo?
Sem demagogia nenhuma, até porque não preciso disso, o meu pai mesmo. Ele lidou ao longo da vida com muita pobreza, tanto a pobreza material quando a espiritual. A material porque, hoje, você olha aqui esse escritório na Paulista e tal, super bonito, mas pra construir isso aqui… O cara penou, até porque ele ganhou sozinho, não tirou de ninguém. E o espiritual por conta da inveja, que tem muito nesse meio. Infelizmente, o pessoal não sabe lidar bem com o sucesso alheio. É mais fácil diminuir o outro do que melhorar. Você tem um vizinho. Se ele não crescer, tudo bem. Os dois estão péssimos, mas se ele começar a melhorar de vida você se sente frustrado. Se continuar mal igual a você, não tem problema. Muita gente pensa assim, né? Quando o outro começa a crescer, não aceitam. Ainda mais de onde ele saiu. Uma cidade pequena de Minas, vindo pra São Paulo, fazendo tudo sozinho, lidando com muita inveja alheia. Então ele é um grande exemplo, sim. Mas ídolo é redundante, né? Todo filho deveria ter o pai como ídolo. Claro, quero ser isso para as minhas filhas. Mas como grande exemplo me espelho nele também. Quando você é talentoso, trabalha e merece, as coisas conspiram a seu favor. Não adianta você ter talento, mas se esconde, não se dedicar. Com essas coisas aliadas, é muito difícil que alguém consiga segurar a progressão da sua carreira. E ele é isso pra mim. Um exemplo vivo de que é possível sair de uma situação muito difícil, com poucos recursos, e poder construir uma carreira bacana na comunicação.
E um grande sonho?
Não penso tanto a longo prazo, não. Mas tenho tanta coisa, cara. Graças a Deus. As mais importantes são as minhas filhas. Um sonho profissional era de realizar uma Copa. Fiz isso ano passado e sou grato eternamente a Bandeirantes por isso. Mas, como te disse, tenho tanta coisa, e não estou falando do lado material, não. Acho que o grande sonho seja ter sempre muita saúde pra trabalhar, pra poder dar uma condição de vida bacana pras meninas, ter uma condição profissional relevante dentro do mercado em que eu estiver atuando. É muito ruim você trabalhar muito e não ser reconhecido, então esse é outro orgulho que tenho, porque felizmente sou reconhecido. Não diria nem que é um grande sonho voltar pra Muzambinho ou Guaxupé, em Minas, porque até seria um choque de realidade muito grande pras meninas, nascidas e criadas em São Paulo, saindo de uma metrópole como é essa e indo para cidades menores e tal, não insisti muito nisso. Muzambinho tem 20 mil habitantes, e Guaxupé, onde nasci, tem 70. Quando saí da Bandeirantes, pra você ter uma ideia, minha ideia era morar em Miami. Mas aí abortei o projeto, muito por conta da colheita do café. Então acho que Ribeirão Preto é até uma alternativa viável, terra da minha mulher, fica perto do Sul de Minas e tal, fica mais fácil. Nunca gostei muito também de ser celebridade, sabe? Não vou me comparar a caras que param restaurantes, mas mesmo a mais simples abordagem, mesmo que tímida, no estádio, no shopping, não é algo que me agrade muito. E a família toda é de lá, você se sente a vontade, as pessoas me conhecem desde quando eu era garoto. Você não precisa representar em nenhum momento. Você é o que você é, e ponto final. As pessoas te respeitam e ponto. Então esse é um dos motivos pra eu querer voltar também pra Minas, embora tudo o que tenho devo a essa cidade, talismã pra muita gente e pra mim também. Sou muito grato, mas realmente está cada dia mais difícil de morar aqui. Se tem a oportunidade de viável de sair de São Paulo e tocar a vida em um mais tranquilo, acho que é a preferência de muitos.
Os mais sinceros agradecimentos ao grande profissional Fábio Lucas Neves, e também à toda equipe de redação do Terceiro Tempo, muito receptivos e agradáveis nesse período em que realizamos a entrevista.

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