terça-feira, 5 de abril de 2011

"Boleiros da Arquibancada" entrevista: Vitor Birner

De Belo Horizonte.
Por João Vitor Cirilo e Matheus de Oliveira.

05/04/11 - Amigos, trazemos até vocês uma entrevista com um grande comentarista do jornalismo esportivo brasileiro. Falamos de Victor Ernesto Birner, ou simplesmente Vitor Birner. Atualmente no programa Cartão Verde, da TV Cultura de São Paulo. Birner aceitou bater um papo conosco e a entrevista trazemos abaixo.

Onde começou sua carreira no jornalismo, Birner?
Em rádios comunitárias, jornal da faculdade...

Em quais funções já trabalhou?
Apuração, produção, reportagem e pauta doutras editorias... Todas. No esporte, fiz tudo isso mais comentários e apresentação (regularmente apenas nas rádios comunitárias).

Birner, a saída da CBN foi com o objetivo para realizar um outro tipo de trabalho dentro do jornalismo esportivo?
Outro tipo, não. Apenas desejava a mudança porque achei interessante trabalhar noutras mídias e lá, por conta dos meus atributos, ficaria muito pesado. O UOL e o Vírgula me chamaram, o Lance já havia feito 2 convites que eu não tive condições de aceitar, e achei que era o momento de mudar. Outra razão era melhorar minha qualidade de vida. Ter um pouco mais de tempo para dormir e me divertir. Passei anos sem dormir mais de 5 horas por dia, quando conseguia. Haja saúde.

Vitor Birner ainda na rádio CBN. Foto do site Universo Tricolor.

Hoje você faz parte da equipe de comentaristas do Cartão Verde, da TV Cultura. Birner, quais as reais diferenças entre o rádio e a TV e qual o meio de comunicação de sua preferência, tanto como espectador, e qual prefere trabalhar?
Estou lá faz anos (uns 4 ou 5, não sei ao certo. Sou péssimo com datas). Participava antes do Magrão (Sócrates) e o Xico entrarem. A diferença é que a pessoa vê quem você é. E grava mais. Eu trato as duas mídias do mesmo jeito. Não mudo a forma de falar, o que digo... Adoro ambas, sem hipocrisia. Ouvir rádio me emociona mais. Fiz isso a vida toda.

No Cartão Verde, comenta ao lado de um ex-jogador, o Sócrates. Qual sua opinião sobre ex-jogadores que se tornam comentaristas após o fim de suas carreiras dentro das quatro linhas? Acredita que isso desmereça o profissional da área, ou acredita que eles tem um olhar diferenciado pois já estiveram “lá dentro”?
Eles levam uma vantagem. As pessoas sabem quem são e acreditam na palavra deles porque foram jogadores. Há de todos os tipos. Os que realmente entendem do assunto, os personagens, os enroladores... Acho que deveria como nos EUA. Quando uma emissora contrata jogador para comentar coloca jornalistas junto para fazerem o mesmo. Se o jogador entende do assunto e está por dentro do futebol atual, a presença dele enriquece a transmissão. Gosto da idéia.

Você assumiu ser São Paulino desde o início de carreira. Como foi a reação daqueles que acompanhavam e acompanham seu trabalho?
De vários tipos. As pessoas normais acham normal e até preferem saber. O sujeito incapaz de entender a diferença entre preferência clubística e mentiras sempre é preconceituoso. Dizer o time para qual torce também já me deu problemas quando chegava ou saía dos estádios. Foram poucos. Normalmente a recepção é muito boa. O problema é que no meio de milhares de pessoas a chance de ter 3 ou 4 problemáticos é considerável. Esse número de pessoas é o bastante para gerar uma confusão.

Deva Pascovicci, Vitor Birner e Paula, na CBN. 
(Foto: Site Papo de Bola)

Ainda acha o Campeonato Inglês o melhor do mundo? O Brasileiro estaria em que patamar?
De longe. A Premier League é melhor que a UEFA Champions League. O torneio continental fica melhor que o Inglês nas fases decisivas. A Bundesliga também é melhor que o Brasileirão. Os outros, não. Na Espanha há uma enorme diferença de qualidade entre Barcelona, Real Madrid e o restante das equipes. Os 2 são superiores, exceções. O italiano perdeu muita qualidade. Está no nível, talvez um pouco abaixo do espanhol. Os campeonatos russo, francês, português e holandês são piores que o brasileirão. O torneio da CBF é do mesmo nível do italiano e do espanhol.

Vitor Birner, todo jornalista influente tem boas fontes. É possível ser amigo de suas fontes ou acredita que isso seria impossível?
Claro. Desde que não tenha rabo preso com elas.

Sobre o racha do Clube dos 13 e a disputa pela transmissão do Brasileirão. Qual sua opinião sobre o assunto. Quem está certo: os clubes que seguem firmes no Clube dos 13 ou as equipes que negociam individualmente suas cotas de transmissão?
Se todos ficassem no Clube dos 13 provavelmente a grande maioria dos times arrecadaria mais, pois as tvs pagariam mais. Só Corinthians e Flamengo talvez, repito, talvez, conseguissem boas negociações individuais. Só que eles não podem jogar sozinhos, e as leis brasileiras exigem a anuência das duas equipes do jogo para as transmissões. Achei as dissidências curiosas e difíceis de alguém explicar de forma convincente.

Gastos com verba pública e futebol: Qual a sua opinião sobre o assunto? (Em especial, abordando o tema Copa do Mundo de 2014).
Você viu a matéria da criança que morreu por causa da má qualidade da infra-estrutura de hospitais no Pará? Quem pagou a conta pelos gastos excessivos no Pan? Tais situações e muitas outras são comuns em nosso país. Não estamos falando de filmes. É a vida doutros seres humanos que está em jogo. Usar verba pública em estádios é crime moral. Vale lembrar que Ricardo Teixeira prometeu estádios construídos pela iniciativa privada. Os Governadores sabiam disso e não reclamaram quando houve a mudança de rumo. Outra situação curiosa, não?

O que tem vontade de fazer e ainda não fez, na profissão? Quais os planos para o futuro?
Comentei poucos jogos na TV. Queria fazer mais. Também pretendo voltar ao rádio caso receba alguma boa proposta. Atualmente estou muito satisfeito em todos os meus trabalhos, mas o único plano de verdade é manter a minha liberdade editorial. Isso, não dá para esconder, fecha algumas portas.


Birner, defina o jornalismo esportivo em uma frase.
Peço licença para usar um pensamento. Quem faz jornalismo esportivo não salva o mundo da fome. É um trabalho prazeroso, desgastante, especial, mas não faz de quem o exerce um ser humano melhor que os outros. Nossas opiniões são menos importantes do que alguns imaginam. Para serem dignas (é o mínimo), antes de pensar na manutenção do emprego, é fundamental lembrar de quem gasta o precioso tempo de vida para nos ver, ouvir e ler.

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